segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Fora com Lupi!
Quer saia logo do governo ou não, Carlos Lupi, ministro do Trabalho, garantiu modesta nota de pé de página em livro de História sobre o governo Dilma Rousseff como o auxiliar que mais constrangeu a presidente antes de levar finalmente um merecido pé na bunda.
Até aqui, pelo menos, trata Dilma como se ela não passasse de um desdentado tigre de papel.
Diga-se a favor de Lupi que ele não foi o único a resistir a deixar o cargo.
Salvo Nelson Jobim, ministro da Defesa e afilhado de casamento de José Serra, os demais desabrigados do governo em sua fase inaugural foram embora contrariados ou cuspindo fogo. Afinal, ser ministro é muito bom. Todos o cortejam e paparicam. Sem falar das vantagens que de fato importam.
O fogo cuspido por um ou outro não provocou mossa em Dilma - longe disso. Ela foi hábil ao lidar com as diversas situações.
Antônio Palocci, ministro da Casa Civil, por exemplo, saiu sob aplausos. Os olhos de Dilma ficaram marejados.
Só faltou uma orquestra de metais para embalar com músicas épicas a saída triunfal de Orlando Silva do ministério do Esporte. Foi emocionante!
Alguém estranho aos nossos costumes – um nórdico ou anglo-saxão - teria dificuldade em entender por que se demite um ministro e depois se junta um coro de carpideiras para chorar sua saída.
Somos latinos e melífluos, essa é que é a verdade. E também cínicos por natureza.
Lupi dispensou choro, vela e tapinhas nas costas. Aproveitou sua condição de único e inquestionável donatário do PDT fundado por Leonel Brizola para falar grosso, dizer desaforos e comportar-se como se lhe coubesse dirigir a cena protagonizada por ele mesmo.
Quis ser valente – foi apenas vulgar. Tentou fazer graça – pareceu um cafajeste.
O grosso: “Conheço a presidente Dilma há 30 anos. Duvido que ela me tire. Nem na reforma ministerial”.
O desaforado: “Daqui ninguém me tira. Só se for abatido à bala. E tem de ser bala de grosso calibre porque sou pesado”.
O vulgar: “Sou osso duro de roer”.
O cafajeste: “Presidente, me desculpe se fui agressivo. Dilma, eu te amo”.
Se não tivesse outros motivos para demitir Lupi, Dilma ganhou de graça um poderoso e definitivo motivo ao ouvir dele em depoimento no Congresso o debochado pedido de desculpas.
“Dilma, eu te amo” é a maneira mais sarcástica de tirar de alguém a majestade do seu cargo e de reduzir-lhe a autoridade.
Deveria ter sido despachado no ato. Mas o tigre só miou.
A soberba de Lupi voltou a se manifestar quando ele foi homenageado na última sexta-feira pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.
Agarrado à calça que a todo instante ameaçava deixá-lo só de cuecas, Lupi prometeu como se lhe sobrasse poder para tanto: “Vou acabar com o ciclo de ministros demitidos no grito. Ah, vou!”.
Dilma pensou a mesma coisa quando Lupi começou a ser atingido por denúncias de malfeitos. Disse a um assessor: “Não, não vou deixar que a imprensa derrube um ministro a cada semana”.
Evoluiu depois para a posição de demitir Lupi ao reformar seu ministério. Não está mais certa disso depois de ter lido a VEJA no fim de semana.
Ali resta provado que Lupi mentiu ao Congresso ao negar que tivesse voado em jatinho de empresário. E que mentiu novamente ao fingir que mal conhecia Adair Meira, um gaúcho dono de ONGs.
Lupi viajou pelo interior do Maranhão no jatinho King Air de Meira. E mais: na companhia do próprio Meira, aquinhoado depois com contratos suspeitos no governo.
Roubar nas barbas do presidente não é necessariamente razão para ser demitido. Não é mesmo.
Ao lotearem seus governos com os partidos, os presidentes sabem que pagarão o preço de fechar os olhos a pequenos grandes roubos.
Mas mentir ao Congresso, por mais que o Congresso seja uma casa de mentiras, é um crime grave. Ou assim deveria ser encarado.
A se admitir que nada aconteça ao ministro de Estado que mente diante dos representantes do povo, o melhor é decretar de uma vez por todas que vivemos em uma falsa democracia. E que o servidor público número um, o presidente da República, é também o farsante público número um.
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fonte: O GLOBO ONLINE
Rocinha começa a era da paz
Em duas horas polícia acaba com 40 anos de domínio do tráfico: esperança a 130 mil moradores
Rio - Bastaram duas horas para que 2 mil homens das Forças de Segurança retomassem um território que há 40 anos foi dominado por uma das mais violentas quadrilhas do Rio. Sem tiros, os policiais pouco a pouco ocuparam cada metro das favelas da Rocinha e do Vidigal, que, juntas, têm 120 mil moradores, e amanheceram com a expectativa de uma nova era, livre do tráfico.
Foi com orgulho e a voz embargada que o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, anunciou, no fim da manhã, que a Rocinha, o Vidigal e a Chácara do Céu estavam ocupados. “O grande trunfo dos cariocas é a libertação do jugo do fuzil. Devolveremos a dignidade e o território a quem não tinha. O que começou hoje não tem data para ser acabado, e fizemos isso sem efetuar nenhum disparo nem derramar uma gota de sangue”, afirmou Beltrame.
Os blindados Clanf e Piranha da Marinha cruzaram o Túnel Zuzu Angel em direção à comunidade, às 4h10. O Caveirão Aéreo da PM rompeu o silêncio da madrugada atípica na Rocinha com voos rasantes. Os bares que animam a vida noturna da localidade Via Ápia fecharam as portas mais cedo. “Nunca houve silêncio como esse na Rocinha”, disse o estudante Leandro Lima, 29 anos, que passou a noite transmitindo a ação pela Internet.
Testemunhas
Moradores locais e de outros bairros foram testemunhar o momento histórico. “Dá angústia, mas estamos contentes”, disse Andrea Creddio, 41, que saiu de Quintino, com o marido, para acompanhar.
Policiais do Bope subiram a favela a pé por dois pontos. Equipes do Batalhão de Ações com Cães e das polícias Civil, Federal e Rodoviária Federal entraram ao mesmo tempo. Criminosos espalharam óleo nas ruas, dificultando a subida dos blindados.
Duas horas depois, a gigante Rocinha se rendia à Operação Choque de Paz. Bandeiras do Brasil e do Estado do Rio foram hasteadas no coração da comunidade, sob aplausos de 500 moradores eufóricos.
Faxina geral começa hoje nas comunidades
Mais de 150 garis comunitários e da Comlurb reiniciam hoje, às 7h, a coleta de lixo, interrompida desde sábado. Caminhões basculantes e compactadores, retroescavadeiras e minitratores darão apoio à limpeza. Quarta-feira, começam os serviços de conservação de ruas e iluminação pública. Com o fim da TV a cabo clandestina nas comunidades, funcionários de operadora legalizada já venderam 20 assinaturas. O aparelho com quatro pontos que podem ser divididos entre vizinhos custa R$ 300.
Carros e concreto formavam 15 barricadas no Vidigal
O Batalhão de Choque ocupou o Morro do Vidigal ao mesmo tempo em que a Rocinha era tomada pelo Bope. Traficantes do Vidigal deixaram barricadas em 15 pontos da favela, usando carros, lixo, madeira e concreto. Também jogaram óleo nas ruas. Nenhum dos blindados da Marinha conseguiu chegar ao topo da comunidade, o que não impediu a ocupação por policiais a pé.
>> FOTOGALERIA: Ocupação policial na Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu
Com as principais vias interditadas para o trânsito por conta da ocupação, muitos moradores que saíram para trabalhar tiveram que caminhar até o Leblon em busca de condução. O trânsito foi liberado por volta das 7h30, depois de anunciada a ocupação.
Aos poucos, moradores começaram a circular e o comércio abriu. O Batalhão de Choque também hasteou bandeiras. Antes da entrada definitiva da polícia na Rocinha e no Vidigal, foram realizadas operações, durante a semana, em outras favelas do Rio, na tentativa de prender criminosos fugitivos.
Governador agradece a Dilma e Lula
O governador Sérgio Cabral foi à base montada no 23º BPM (Leblon) para organizar a ação, onde cumprimentou a cúpula da Segurança Pública e os policiais. Ele agradeceu, por telefone, à presidenta Dilma Roussef e ao ex-presidente Lula pela parceria e disse que ontem foi dia histórico no País.
Beltrame informou que o planejamento de 40 UPPs está mantido. E ressaltou que não descarta que a casa do traficante Nem, localizada na ação, seja usada. Ele afirmou que o mérito da ação é da força de paz.
“Quem suou sangue, deve ter seu momento de glória. Essa vitória não é da secretaria, mas do grupo que trabalhou nas operações. Foi uma ação combinada com instituições às quais serei eternamente grato”.
Uso de mochila foi proibido
Policiais que participaram da operação foram proibidos de usar mochila. A medida foi tomada para evitar saques a moradores, como ocorreu durante a pacificação do Complexo do Alemão, em novembro do ano passado.
Policiais do sexo feminino hastearam as bandeiras estadual e nacional na Rocinha. Moradora ajudou na tarefa.
A chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, apelou a mulheres e parentes de bandidos para que denunciem armas e drogas escondidas. Panfletos foram distribuídos, com telefones para denúncias (2334- 3984, 2332-3976 e 8596 -7912).
fonte: O DIA ONLINE
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Beltrame diz que não se surpreendeu com escolta de bandidos feita por policiais
Em entrevista ao jornalista Fernando Molica, do Informe do Dia, secretário de Segurança do Rio fala que prisão do Nem é só o começo e que 'só vai vibrar quando obra estiver completa'
Rio - Secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou, na manhã desta quinta-feira, ao jornalista Fernando Molica, do Informe do Dia, que a polícia vai entrar para ficar na Rocinha. Ele não confirmou que a ocupação ocorrerá no domingo, a data vai depender da conclusão de operações prévias.
Beltrame, que estava em Berlim, na Alemanha, e embarcou para o Rio, afirma que o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, preso ao tentar fugir da favela, “tem muito o que esclarecer para a sociedade”. Frisou que a facção integrada pelo bandido costuma priorizar a “corrupção de agentes públicos”. Nesta entrevista, por telefone, Beltrame elogiou a polícia e disse que a retomada da Rocinha é apenas o primeiro passo.
Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Secretário José Mariano Beltrame: 'A luta só está começando' | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Segundo ele, os poderes públicos e a sociedade precisam ocupar os espaços deixados pelo tráfico. “O Rio não pode perder uma oportunidade como essa”, alerta. O secretário participou de encontros com equipes que fizeram a segurança das copas do mundo de futebol masculino e feminino realizadas na Alemanha.
Quando é que o Sr. soube da prisão do Nem?
Soube hoje de madrugada. A gente veio (à Alemanha) fazer um trabalho e acabou fazendo outro, fiquei o tempo todo acompanhando o desenrolar dos trabalhos no Rio. O mais importante é que esta operação foi planejada há muito tempo. No início de novembro, a polícia começou a fazer o que chamamos de operação combinada na Rocinha. Uma operação que incluiu ações na comunidade e em outros locais, como a Maré. Isto resultou, por exemplo, na morte do Marcelinho Niterói (ocorrida na Favela Parque União no último dia 1º). O trabalho é dinâmico, ao investigarmos uma determinada pessoa, acabamos abrindo outras fontes e novas informações. Esta operação combinada ainda está em curso, só depois de sua conclusão é que iremos ocupar a Rocinha. Fizemos um grande cerco, houve forte produção do setor de Inteligência.
A ocupação, então, não ocorrerá necessariamente no domingo?
Isso, a data não está fechada. Antes, precisamos concluir esta operação combinada.
Há quanto tempo foi tomada a decisão de deflagrar a operação na Rocinha em novembro?
Isso tem muito tempo, nossas ações são sempre planejadas com antecedência. Temos que fechar a data e começar a trabalhar. Sabemos, por exemplo, quando será a próxima operação.
E quanto será? Em que favela?
Não posso dizer, nosso trabalho tem que ser muito cuidadoso, não dá para brincar com isso. Existe uma estratégia, um conceito. O fundamental é quebrar a lógica do domínio do território, tirar o porto seguro desses bandidos, interromper o ciclo. Muitos traficantes eram presos no passado, mas isso não mudava o quadro. O importante é que estamos acabando com o domínio territorial. Bastou a simples ameaça de perda de território para que o bandido (Nem) deixasse a Rocinha. Sem o território, eles ficam vulneráveis, perdem o que têm de mais sagrado. Lá é que eles se estabeleciam com armas de guerra, acuavam a população. A prisão de bandidos não era suficiente, era importante acabar com o domínio das áreas.
Foto: Gabriela Moreira / Agência O Dia
Nem da Rocinha, preso pelo Batalhão de Choque na noite desta quarta-feira | Foto: Gabriela Moreira / Agência O Dia
O Sr. acha que seria possível estabelecer um domínio territorial como o que foi criado em tantas favelas do Rio sem conivência de setores da polícia e da própria política?
As organizações criminosas, de um modo geral, se estabelecem graças à participação de agentes públicos. Mas, acima deste ponto, existe a resposta da população. O que estamos fazendo é apenas uma parte disso, a retomada do território. Mas ainda há uma série de outras questões que precisam ser enfrentadas, a ocupação policial apenas abre várias oportunidades. Antes se dizia que não dava para entrar nessas comunidades. Agora que estamos entrando, o estado, a prefeitura, a União, a iniciativa privada e a sociedade como um todo têm que ocupar seus espaços nessas favelas. O Rio não pode perder uma oportunidade como esta, o Estado precisa ocupar o lugar que era dos traficantes, essas áreas precisam ser integradas à sociedade. A segurança deu apenas o primeiro passo.
Sempre se dizia que as favelas dominadas pelo tráfico eram territórios inexpugnáveis. A experiência das ocupações, em especial no Alemão e, agora, na Rocinha, mostra que isto não era verdade, revelou que o tráfico teme uma ação organizada. O que mudou?
Nós fizemos um planejamento, agimos com lisura e transparência. A partir da primeira UPP (a do Morro Dona Marta) e com o ápice da ocupação do Alemão, ficou clara a nossa política de ocupação sem confronto. Criamos uma estrutura para isso, nós só não tínhamos a variável do que se passava na cabeça do criminoso. Organizamos uma força para mostrar que entraríamos sem confronto. O Alemão nos deu esta lição. Agora, vamos entrar e não vamos sair da Rocinha, vamos deixar isso claro para a sociedade.
O fato de o Nem não ter sido morto é importante, não? Ele, que tinha tantas relações com a vida da comunidade e também com o universo político mais geral, certamente tem muito para contar...
Espero que ele tenha prestado um bom depoimento, ele tem muito o que esclarecer para a sociedade. Não podemos obrigá-lo a falar, mas é importante que ele faça essas revelações no processo judiciário. Até porque a facção que ele integra (ADA) não é tão adepta do confronto quanto uma outra (o Comando Vermelho). A facção dele atua, principalmente, na corrupção de agentes públicos.
O Sr. se surpreendeu ao saber que traficantes foram presos enquanto fugiam escoltados por policiais?
Não, não me surpreendi. Neste período em que vivo no Rio, aprendi o tamanho que esse tipo de coisa pode atingir. Mas temos também a dimensão dos bons policiais civis e militares. Eles são a maioria, são pessoas que fizeram a prisão do criminoso, que deixam o sangue na farda, e que, agora, estão muito felizes. Estamos prendendo policiais civis, militares, delegados, é um processo que avança. Mas o fundamental para a sociedade é que a maioria é formada por bons policiais.
Como o Sr. classifica a atuação da Polícia Federal?
A Polícia Federal está conosco desde 2007. Ela tem suas limitações constitucionais de atuação, mas tem ajudado muito, principalmente no campo da inteligência policial.
O Sr. comemorou esta vitória?
É uma vitória, claro, foi um trabalho bonito. Mas, como eu costumo dizer, estamos vivendo a construção de algo maior. Prefiro comemorar e vibrar quando a obra toda estiver pronta. O importante são os resultados para o Rio de Janeiro. Estamos implantando uma nova maneira de atuar, prefiro que os resultados sejam um pouco lentos, mas que sejam sólidos.
fonte: O DIA ONLINE
Rio - Secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou, na manhã desta quinta-feira, ao jornalista Fernando Molica, do Informe do Dia, que a polícia vai entrar para ficar na Rocinha. Ele não confirmou que a ocupação ocorrerá no domingo, a data vai depender da conclusão de operações prévias.
Beltrame, que estava em Berlim, na Alemanha, e embarcou para o Rio, afirma que o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, preso ao tentar fugir da favela, “tem muito o que esclarecer para a sociedade”. Frisou que a facção integrada pelo bandido costuma priorizar a “corrupção de agentes públicos”. Nesta entrevista, por telefone, Beltrame elogiou a polícia e disse que a retomada da Rocinha é apenas o primeiro passo.
Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Secretário José Mariano Beltrame: 'A luta só está começando' | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Segundo ele, os poderes públicos e a sociedade precisam ocupar os espaços deixados pelo tráfico. “O Rio não pode perder uma oportunidade como essa”, alerta. O secretário participou de encontros com equipes que fizeram a segurança das copas do mundo de futebol masculino e feminino realizadas na Alemanha.
Quando é que o Sr. soube da prisão do Nem?
Soube hoje de madrugada. A gente veio (à Alemanha) fazer um trabalho e acabou fazendo outro, fiquei o tempo todo acompanhando o desenrolar dos trabalhos no Rio. O mais importante é que esta operação foi planejada há muito tempo. No início de novembro, a polícia começou a fazer o que chamamos de operação combinada na Rocinha. Uma operação que incluiu ações na comunidade e em outros locais, como a Maré. Isto resultou, por exemplo, na morte do Marcelinho Niterói (ocorrida na Favela Parque União no último dia 1º). O trabalho é dinâmico, ao investigarmos uma determinada pessoa, acabamos abrindo outras fontes e novas informações. Esta operação combinada ainda está em curso, só depois de sua conclusão é que iremos ocupar a Rocinha. Fizemos um grande cerco, houve forte produção do setor de Inteligência.
A ocupação, então, não ocorrerá necessariamente no domingo?
Isso, a data não está fechada. Antes, precisamos concluir esta operação combinada.
Há quanto tempo foi tomada a decisão de deflagrar a operação na Rocinha em novembro?
Isso tem muito tempo, nossas ações são sempre planejadas com antecedência. Temos que fechar a data e começar a trabalhar. Sabemos, por exemplo, quando será a próxima operação.
E quanto será? Em que favela?
Não posso dizer, nosso trabalho tem que ser muito cuidadoso, não dá para brincar com isso. Existe uma estratégia, um conceito. O fundamental é quebrar a lógica do domínio do território, tirar o porto seguro desses bandidos, interromper o ciclo. Muitos traficantes eram presos no passado, mas isso não mudava o quadro. O importante é que estamos acabando com o domínio territorial. Bastou a simples ameaça de perda de território para que o bandido (Nem) deixasse a Rocinha. Sem o território, eles ficam vulneráveis, perdem o que têm de mais sagrado. Lá é que eles se estabeleciam com armas de guerra, acuavam a população. A prisão de bandidos não era suficiente, era importante acabar com o domínio das áreas.
Foto: Gabriela Moreira / Agência O Dia
Nem da Rocinha, preso pelo Batalhão de Choque na noite desta quarta-feira | Foto: Gabriela Moreira / Agência O Dia
O Sr. acha que seria possível estabelecer um domínio territorial como o que foi criado em tantas favelas do Rio sem conivência de setores da polícia e da própria política?
As organizações criminosas, de um modo geral, se estabelecem graças à participação de agentes públicos. Mas, acima deste ponto, existe a resposta da população. O que estamos fazendo é apenas uma parte disso, a retomada do território. Mas ainda há uma série de outras questões que precisam ser enfrentadas, a ocupação policial apenas abre várias oportunidades. Antes se dizia que não dava para entrar nessas comunidades. Agora que estamos entrando, o estado, a prefeitura, a União, a iniciativa privada e a sociedade como um todo têm que ocupar seus espaços nessas favelas. O Rio não pode perder uma oportunidade como esta, o Estado precisa ocupar o lugar que era dos traficantes, essas áreas precisam ser integradas à sociedade. A segurança deu apenas o primeiro passo.
Sempre se dizia que as favelas dominadas pelo tráfico eram territórios inexpugnáveis. A experiência das ocupações, em especial no Alemão e, agora, na Rocinha, mostra que isto não era verdade, revelou que o tráfico teme uma ação organizada. O que mudou?
Nós fizemos um planejamento, agimos com lisura e transparência. A partir da primeira UPP (a do Morro Dona Marta) e com o ápice da ocupação do Alemão, ficou clara a nossa política de ocupação sem confronto. Criamos uma estrutura para isso, nós só não tínhamos a variável do que se passava na cabeça do criminoso. Organizamos uma força para mostrar que entraríamos sem confronto. O Alemão nos deu esta lição. Agora, vamos entrar e não vamos sair da Rocinha, vamos deixar isso claro para a sociedade.
O fato de o Nem não ter sido morto é importante, não? Ele, que tinha tantas relações com a vida da comunidade e também com o universo político mais geral, certamente tem muito para contar...
Espero que ele tenha prestado um bom depoimento, ele tem muito o que esclarecer para a sociedade. Não podemos obrigá-lo a falar, mas é importante que ele faça essas revelações no processo judiciário. Até porque a facção que ele integra (ADA) não é tão adepta do confronto quanto uma outra (o Comando Vermelho). A facção dele atua, principalmente, na corrupção de agentes públicos.
O Sr. se surpreendeu ao saber que traficantes foram presos enquanto fugiam escoltados por policiais?
Não, não me surpreendi. Neste período em que vivo no Rio, aprendi o tamanho que esse tipo de coisa pode atingir. Mas temos também a dimensão dos bons policiais civis e militares. Eles são a maioria, são pessoas que fizeram a prisão do criminoso, que deixam o sangue na farda, e que, agora, estão muito felizes. Estamos prendendo policiais civis, militares, delegados, é um processo que avança. Mas o fundamental para a sociedade é que a maioria é formada por bons policiais.
Como o Sr. classifica a atuação da Polícia Federal?
A Polícia Federal está conosco desde 2007. Ela tem suas limitações constitucionais de atuação, mas tem ajudado muito, principalmente no campo da inteligência policial.
O Sr. comemorou esta vitória?
É uma vitória, claro, foi um trabalho bonito. Mas, como eu costumo dizer, estamos vivendo a construção de algo maior. Prefiro comemorar e vibrar quando a obra toda estiver pronta. O importante são os resultados para o Rio de Janeiro. Estamos implantando uma nova maneira de atuar, prefiro que os resultados sejam um pouco lentos, mas que sejam sólidos.
fonte: O DIA ONLINE
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