segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Rocinha começa a era da paz
Em duas horas polícia acaba com 40 anos de domínio do tráfico: esperança a 130 mil moradores
Rio - Bastaram duas horas para que 2 mil homens das Forças de Segurança retomassem um território que há 40 anos foi dominado por uma das mais violentas quadrilhas do Rio. Sem tiros, os policiais pouco a pouco ocuparam cada metro das favelas da Rocinha e do Vidigal, que, juntas, têm 120 mil moradores, e amanheceram com a expectativa de uma nova era, livre do tráfico.
Foi com orgulho e a voz embargada que o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, anunciou, no fim da manhã, que a Rocinha, o Vidigal e a Chácara do Céu estavam ocupados. “O grande trunfo dos cariocas é a libertação do jugo do fuzil. Devolveremos a dignidade e o território a quem não tinha. O que começou hoje não tem data para ser acabado, e fizemos isso sem efetuar nenhum disparo nem derramar uma gota de sangue”, afirmou Beltrame.
Os blindados Clanf e Piranha da Marinha cruzaram o Túnel Zuzu Angel em direção à comunidade, às 4h10. O Caveirão Aéreo da PM rompeu o silêncio da madrugada atípica na Rocinha com voos rasantes. Os bares que animam a vida noturna da localidade Via Ápia fecharam as portas mais cedo. “Nunca houve silêncio como esse na Rocinha”, disse o estudante Leandro Lima, 29 anos, que passou a noite transmitindo a ação pela Internet.
Testemunhas
Moradores locais e de outros bairros foram testemunhar o momento histórico. “Dá angústia, mas estamos contentes”, disse Andrea Creddio, 41, que saiu de Quintino, com o marido, para acompanhar.
Policiais do Bope subiram a favela a pé por dois pontos. Equipes do Batalhão de Ações com Cães e das polícias Civil, Federal e Rodoviária Federal entraram ao mesmo tempo. Criminosos espalharam óleo nas ruas, dificultando a subida dos blindados.
Duas horas depois, a gigante Rocinha se rendia à Operação Choque de Paz. Bandeiras do Brasil e do Estado do Rio foram hasteadas no coração da comunidade, sob aplausos de 500 moradores eufóricos.
Faxina geral começa hoje nas comunidades
Mais de 150 garis comunitários e da Comlurb reiniciam hoje, às 7h, a coleta de lixo, interrompida desde sábado. Caminhões basculantes e compactadores, retroescavadeiras e minitratores darão apoio à limpeza. Quarta-feira, começam os serviços de conservação de ruas e iluminação pública. Com o fim da TV a cabo clandestina nas comunidades, funcionários de operadora legalizada já venderam 20 assinaturas. O aparelho com quatro pontos que podem ser divididos entre vizinhos custa R$ 300.
Carros e concreto formavam 15 barricadas no Vidigal
O Batalhão de Choque ocupou o Morro do Vidigal ao mesmo tempo em que a Rocinha era tomada pelo Bope. Traficantes do Vidigal deixaram barricadas em 15 pontos da favela, usando carros, lixo, madeira e concreto. Também jogaram óleo nas ruas. Nenhum dos blindados da Marinha conseguiu chegar ao topo da comunidade, o que não impediu a ocupação por policiais a pé.
>> FOTOGALERIA: Ocupação policial na Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu
Com as principais vias interditadas para o trânsito por conta da ocupação, muitos moradores que saíram para trabalhar tiveram que caminhar até o Leblon em busca de condução. O trânsito foi liberado por volta das 7h30, depois de anunciada a ocupação.
Aos poucos, moradores começaram a circular e o comércio abriu. O Batalhão de Choque também hasteou bandeiras. Antes da entrada definitiva da polícia na Rocinha e no Vidigal, foram realizadas operações, durante a semana, em outras favelas do Rio, na tentativa de prender criminosos fugitivos.
Governador agradece a Dilma e Lula
O governador Sérgio Cabral foi à base montada no 23º BPM (Leblon) para organizar a ação, onde cumprimentou a cúpula da Segurança Pública e os policiais. Ele agradeceu, por telefone, à presidenta Dilma Roussef e ao ex-presidente Lula pela parceria e disse que ontem foi dia histórico no País.
Beltrame informou que o planejamento de 40 UPPs está mantido. E ressaltou que não descarta que a casa do traficante Nem, localizada na ação, seja usada. Ele afirmou que o mérito da ação é da força de paz.
“Quem suou sangue, deve ter seu momento de glória. Essa vitória não é da secretaria, mas do grupo que trabalhou nas operações. Foi uma ação combinada com instituições às quais serei eternamente grato”.
Uso de mochila foi proibido
Policiais que participaram da operação foram proibidos de usar mochila. A medida foi tomada para evitar saques a moradores, como ocorreu durante a pacificação do Complexo do Alemão, em novembro do ano passado.
Policiais do sexo feminino hastearam as bandeiras estadual e nacional na Rocinha. Moradora ajudou na tarefa.
A chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, apelou a mulheres e parentes de bandidos para que denunciem armas e drogas escondidas. Panfletos foram distribuídos, com telefones para denúncias (2334- 3984, 2332-3976 e 8596 -7912).
fonte: O DIA ONLINE
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