segunda-feira, 30 de agosto de 2010
A guerra dos pastéis
por Edmundo Leite
Seção: Lugares
Memória
24.agosto.2010 06:40:06
Pelo segundo ano consecutivo, São Paulo escolheu o seu melhor pastel de feira. A vencedora desse ano foi a barraca da Agena, que desbancou a campeã do ano passado, a Maria, que até abriu uma loja em Pinheiros depois da consagração no primeiro concurso.
Se hoje é impossível imaginar uma feira sem barraca de pastel, a ponto de o quitute ser reconhecido oficialmente como um símbolo da cidade – com a prefeitura organizando o concurso e o próprio prefeito entregando pessoalmente o prêmio – os pasteleiros nem sempre contaram com a simpatia do poder público. Ao longo dos anos tiveram que lutar contra várias administrações desde que os primeiras cuias de óleo quente apareceram nas feiras livres da cidade.
Como a maioria do comércio informal, não se sabe com precisão quando começou o comércio de pastéis nas feiras. Alguns registros dizem que foram imigrantes japoneses da ilha de Okinawa – movidos pelo aperto econômico – que deram início à tradição.
A primeira regulamentação da categoria data de 1966. Mas isso não foi garantia de tranqüilidade para os pasteleiros. Nos anos 70 e 80 foram várias ações oficiais para coibir a venda de pastéis nas feiras. Enquanto algumas apertavam a fiscalização em torno de alvarás e condições sanitárias, outras pretendiam banir completamente os pastéis das feiras.
Era o que pretendia o prefeito Olavo Setubal, que em 1978 baixou um decreto proibindo o comércio de pastéis nas feiras da capital. Os pasteleiros reagiram com pedido de mandado de segurança, protestos e pressão do sindicato junto aos vereadores.
A realidade dos pasteleiros não era muito diferente de seus colegas feirantes. Estudo recente apresentado num curso de especialização na Escola de Comunicação e Artes da USP mostra que as próprias feiras estiveram no alvo de várias administrações e que seu fim chegou a ser anunciado várias vezes.
Em 1978, a pressão contra o decreto de Setubal deu certo e os pasteleiros continuaram nas feiras. Mas de tempos em tempos tiveram que enfrentar novas investidas de diferentes gestões da prefeitura.
Mais que o apoio de suas associações e de alguns políticos, os pasteleiros contavam com um aliado poderoso que garantiria a sua permanência nas ruas: os consumidores.
Todos os dias, em diferentes pontos da cidade, milhares de pessoas que há muito deixaram de comprar frutas e hortaliças nas barracas de madeira cobertas com lona ou plástico vão às feiras em busca de um pedaço de massa recheado com os mais variados ingredientes. Aos pioneiros carne, queijo e palmito se juntaram uma infinidade de sabores, de preferência devorados acompanhados de um gelado caldo de cana. Uma guerra que valeu a pena.
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