E lá se vão anos... muitos ou vários, nem sei mais quantos... Suficientes, por certo, para cada vez mais admirá-lo, apreciá-lo, amá-lo e com ele ter aprendido verdadeiras lições de amor, de vida... lições de bem servir ao próximo.... Lições nem sempre escritas, mas transmitidas oralmente, em poesias, em trovas e/ou em prosas. Apreendidas e assimiladas em nossos permanentes diálogos, em nossas intermináveis conversas sobre a gente brasileira, sobre a cultura da nossa gente, sobre os destinos do nosso país... E todo esse convívio foi encerrado na madrugada do último sábado, quando sua assessora Beth Almeida, que com ele trabalhou por mais de vinte anos, me comunicou sua morte. Olinto morreu em seu apartamento-biblioteca-museu de Copacabana, de onde se podia avistar um pedaço do Atlântico e onde, juntos, refletíamos e buscávamos, de alguma forma, encontrar saídas para tantas mazelas que afligem o Rio, o Brasil e o Mundo. Sua morte, no dia em que completava 12 anos do seu ingresso na Academia Brasileira de Letras, deixou os seus incontáveis amigos muito tristes e o mundo literário, mais pobre.
Olinto era um homem especialíssimo; uma figura notável; um patrimônio cultural do Brasil; um escritor de rara inteligência e dono de uma lucidez magnífica. E, sublinhemos, viveu longos e saudáveis 90 anos. Quase um século de atividades intensas e permanentes em defesa da língua portuguesa, da literatura brasileira, da propagação, por meio de textos jornalísticos ou dos seus incontáveis livros publicados, e traduzidos em mais de 45 idiomas, das suas idéias e pensamentos, da sua criatividade intelectual, da sua vontade em fazer construir um mundo mais digno e mais saudável.
Nascido em Ubá, batizado em Piau, lá nas Minas Gerais, esse Antonio, de olhar meigo, terno, com o colorido da cor do céu, conquistou o mundo, com suas andanças pelos cinco continentes, ora proferindo palestras e conferências, ora organizando seminários internacionais, ora lançando livros e muitas vezes recebendo prêmios e láureas importantes, que traduziam o reconhecimento da sua devoção à arte de bem escrever.
Dono de uma formação sólida estudou Filosofia e Teologia e quase se ordenou sacerdote. Desistiu dos seminários e resolveu ser Mestre de Latim, Português, História da Literatura, Francês, Inglês e História da Civilização, em colégios do Rio de Janeiro e em instituições universitárias nacionais, como o Centro Universitário da Cidade, que lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa, e na Faculdade de Letras do Centro Universitário de Ubá, que também lhe agraciou com idêntica honraria ou nas mais importantes e tradicionais instituições estrangeiras, como as Universidades de Columbia, Yale, Harvard, Indiana, UCLA ou Essex.
Fez conferências sobre Cultura Brasileira em universidades e em centros de pesquisas de Tóquio, Seul, Sidney, Maputo, Dacar, Lagos, Abidjan, Tanger, Buenos Aires, Lisboa, Coimbra, Porto, Madri, Santiago do Chile, Barcelona, Paris, Milão, Pádua, Veneza, Roma, Zagreb, Bucareste, Sofia, Varsóvia, Cracóvia, Moscou, Estocolmo, Copenhagen, Londres, Oxford, Cambridge e Dublin, dentre outras. O Diploma de Excelência da Universidade de Vasile Goldis, de Arad, lhe foi ofertado em razão da difusão da cultura brasileira na Romênia. Nessa mesma ocasião, a Embaixada do Brasil nesse país inaugurou, em Bucareste, a Biblioteca Antonio Olinto. Um verdadeiro homem do mundo!
Nomeado Adido Cultural em Lagos, Nigéria, pelo governo parlamentarista de 1962, em três anos de atividade, fez cerca de 200 conferências na África Ocidental. Como resultado, escreveu uma trilogia de romances, "A Casa da Água", uma das obras-primas da literatura do Brasil, "O Rei de Keto" e "Trono de Vidro".
Em 1968 foi nomeado Adido Cultural em Londres e passou a participar também das atividades do PEN Internacional. Morou no Reino Unido por quase 37 anos, onde juntamente com sua mulher a escritora e jornalista Zora Seljan, falecida em 2006, fundaram o jornal "The Brazilian Gazette".
Recebeu em 1994 o "Prêmio Machado de Assis", por conjunto de obras, da Academia Brasileira de Letras, a mais alta láurea literária do Brasil. Três anos mais tarde, foi eleito para Academia Brasileira de Letras, cadeira nº 8, sucedendo ao escritor Antonio Callado.
Além de poeta, romancista, ensaísta, crítico literário, Olinto era também artista plástico, pintava e fazia esculturas. Nas paredes de seu apartamento, cobertas por belas máscaras africanas, selecionadas em suas muitas e fantásticas viagens, respirávamos arte, literatura e nos abastecíamos da boa prosa, dos causos que contava com simplicidade, eloqüência, elegância e empolgação. Sabia e discutia qualquer assunto e sempre com uma argumentação viva, rica e verdadeiramente encantadora.
Olinto, neste momento de partida, merece todos os nossos mais vivos aplausos e todas as nossas maiores e mais sinceras homenagens. Como imortal, será lembrado e festejado pela eternidade. Seu nome está gravado, e definitivamente, na História da Literatura do Brasil. E não por ser um imortal, pertencente a tantas academias, mas pela sua própria natureza e, sobretudo, pela sua capacidade invulgar de conquistar, de agregar e de ser.
Paulo Alonso é Titular das Academias Carioca de Letras, Internacional de Educação, de Letras do Estado do Rio de Janeiro e de Semiologia e Direito de São Paulo
OBS:Embora com atraso,aqui está o artigo que foi enviado ao diário do ambulante pelo Reitor Paulo Alonso,um belo artigo.
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