Caio de Menezes, Jornal do Brasil
RIO - Espalhados pela cidade – muitos em situação irregular – os vendedores de cachorro-quente são tão cultuados por cariocas, que muitos chegam a louvá-los como deuses pelo poder de aplacar as piores fomes nas horas mais críticas. Com o segredo de suas receitas, acumulam clientes e histórias reveladas apenas madrugada adentro. O sucesso é tanto, que alguns chegam a ser contratados para ministrar palestras a executivos de venda.
É no canteiro central da Rua Humaitá, próximo à esquina com a Rua Viúva Lacerda, na Zona Sul, que funciona há 16 anos o Hot Dog do Oliveira. Com mais de 30 anos na venda de cachorro-quente, o acreano Oliveira Ferreira da Silva, de 57, reúne histórias curiosas sobre a profissão. O bom desempenho do negócio já o levou a ensinar a profissionais de venda sobre como convencer um cliente a pagar mais por um produto. Coisa de especialista.
– Fui convidado para conversar com uma plateia de executivos de uma multinacional do ramo de softwares que vendia um novo sistema por um preço muito mais caro que o da concorrente. Eles não conseguiam. Me chamaram para ajudar porque meu cachorro-quente é mais caro que os demais, mas vende que nem água – diz, orgulhoso por comercializar mais de 200 sanduíches, por noite, a R$ 5,50 cada um.
Apesar de bem-sucedido e de realizar “quase três palestras por mês em todo o Brasil”, Oliveira quer mais. Sem rancor, reivindica a autoria da invenção da batata palha, item indispensável em qualquer cachorro quente que se preze.
– Em 1982, eu percorria as fábricas de batata frita recolhendo as quebradas, que seriam jogadas fora. Aí, as empresas começaram a vender a batata quebrada como palha e ninguém mais come cachorro quente sem ela. E olha que já me chamaram de maluco por conta disso, mas virou moda.
Clientes famosos
Funcionário do Hot Dog do Oliveira há seis anos, Lindormar Fernandes não esconde o orgulho de ter na lista de clientes celebridades nacionais.
– Sempre vem jogador de futebol, cantor ou artista de novela. Outro dia, servi ao Adriano Imperador, do Flamengo – gaba-se.
Ney Conceição, contrabaixista de 36 anos, frequentador rotineiro do Oliveira, conta que não se importa em comer na rua.
– Esse cachorro-quente tem minha confiança, até meu filho come aqui. Vida longa ao podrão – profetiza o músico, lembrando o carinhoso apelido da iguaria.
Se de um lado do Túnel Rebouças a barraca do Oliveira é líder de vendas, do outro é Maria do Socorro quem comanda a atração. Instalada na esquina da Avenida Maracanã com a Rua Baltazar Lisboa, na Tijuca (Zona Norte), a banca oportunamente batizada Ponto de Encontro é, há 15 anos, o point de moradores da região. Socorro garante que o sucesso do negócio, do qual é sócia, se deve à fidelidade da freguesia.
– No início, os vizinhos foram contra, reclamavam do barulho. Mas, com o tempo, passaram a frequentar. Depois, chegaram outros grupos, trabalhadores da área, torcedores que vão ao Maracanã e pessoas que voltam de bares e boates e garantem grande parte de nossas vendas. A turma chega aqui e devora os cachorros-quentes.
Para toda a família
Parte da clientela assídua do Ponto de Encontro, a família Pereira Grasso não abre mão do sanduiche. Durante a visita do Jornal do Brasil, seis integrantes do clã saboreavam o acepipe. Albertina Pereira, a avó, explica a opção.
– É o melhor cachorro-quente que conhecemos. Não trocamos por nada – garante a aposentada, que mora com a família no Centro da cidade.
Com mais de oito anos de serviços prestados ao Ponto de Encontro, Carlos Geovaldo Lopes Batista, o Bigode, Vampeta ou Carlinhos, se sente privilegiado por trabalhar no local onde, garante, é sempre bem tratado.
– Aqui tem gente de todo tipo, é muito engraçado, me divirto mesmo. Fiz amizades duradouras e até acumulo diversos apelidos.
21:09 - 17/10/2009
fonte: JB online
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