Rio - Quatro dias depois de a Polícia Federal deflagrar a Operação Guilhotina — que prendeu 40 pessoas, entre elas o ex-subchefe operacional, delegado Carlos Oliveira — e gerar uma das maiores crises da história da Polícia Civil, o comando da instituição trocou de mãos. Allan Turnowski deixou o cargo após uma conversa com o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e foi substituído pela delegada Martha Rocha.
Foto: Alexandre Bum / Agência O Dia
Beltrame disse estar honrado em quebrar mais um paradigma na Segurança do estado | Foto: Alexandre Bum / Agência O Dia
“Seu nome (Martha Rocha) foi praticamente uma unanimidade. Estou honrado em quebrar mais um paradigma na Segurança neste estado, ao escolher uma mulher para ocupar pela primeira vez a Chefia de Polícia Civil do Rio.
Ela foi galgada a esse cargo não por ser mulher, mas porque tem um histórico de 29 anos de Polícia Civil, praticamente vividos em todas as áreas que a instituição atua. É uma pessoa que está plenamente afinada com os nossos propósitos”, disse Beltrame, que fez questão de classificar Turnowski como grande policial e grande chefe de Polícia. “Ele deixou sua marca”.
Quase dois anos depois de assumir o cargo, Allan saiu após entrar em rota de colisão com o diretor da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE), Cláudio Ferraz. O então chefe mandou lacrar a especializada para fazer uma varredura nos inquéritos. Na inspeção, foram encontrados dois procedimentos idênticos que teriam sido assinados por Ferraz. A denúncia é de que policiais da Draco participariam de esquema de propina envolvendo prefeituras e empresários.
A atitude de Allan foi encarada como retaliação, já que Ferraz foi um dos principais colaboradores da PF na investigação que culminou com a Operação Guilhotina.
Ao comentar o momento de crise em que assume o cargo, Martha afirmou não estar preocupada com quem foi preso, mas com os bons policiais. Ela ressaltou que vai continuar a limpa na polícia e, para isso, quer fortalecer a Corregedoria Interna.
“Prefiro ver o desafio por aquele policial que, quando a instituição é atingida, se sente atingido também. O bom policial deseja corregedoria forte”, enfatizou ela, acrescentando que vai investir mais na formação dos policiais. “Policial eficiente é o bem treinado”, avaliou ela. Sobre a varredura na Draco, disse que vai aguardar o fim das investigações.
“Nunca me vi como chefe de Polícia”, confessou.
Defesa da mulher e ‘caça’ a bicheiros
Até ser convidada para a Chefia de Polícia, Martha Rocha comandava a Divisão de Polícias de Atendimento à Mulher (DPAM). Ela entrou para a instituição como escrivã na década de 80 e, em 1990, fez concurso e se tornou delegada.
Em 92, participou da implantação da Delegacia de Apoio ao Turismo (Deat) e, no ano seguinte, chegou ao comando do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE).
Em 1999, foi subchefe de Polícia Civil. Em 2000, como titular da 15ª DP (Gávea), Martha foi responsável pelo inquérito que apurou o caso do ônibus 174, que resultou na morte de uma refém e do sequestrador. Na conclusão da investigação, a delegada indiciou o então comandante do Bope, José Penteado, por homicídio culposo.
Martha também ocupuou a Corregedoria da Polícia Civil. Dentro da instituição, a delegada é conhecida como uma ‘caçadora’ de contraventores. A fama começou depois de um episódio em 1994. Na época, seu chefe de gabinete, o delegado Inaldo Santana, foi preso ao tentar intermediar pagamento de propina de bicheiros ao então corregedor.
Reportagem de Isabel Boechat, Leslie Leitão e Maria Inez Magalhães
fonte: O DIA
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