Infelizmente não há mais lugar na mesma polícia para Allan Turnowski e José Mariano Beltrame. Um dos dois terá que pedir pra sair. Na verdade esses dois agentes da lei nunca pertenceram a mesma corporação. Como se sabe, Allan é delegado da Polícia Civil e Beltrame, delegado federal. Eles foram se encontrar na Secretaria de Segurança Pública por obra de uma indicação de pessoas muito próximas do governador Sérgio Cabral. Turnowski não foi escolhido por Beltrame. Desde que teve início a fritura por Beltrame, em setembro do ano passado, Turnowski se ocupou de fortalecer os vínculos com o governador.
Os problemas entre Beltrame e Turnowski começaram em meados do ano passado, quando o secretário descobriu que levava bola nas costas por parte de policiais ligados ao chefe da Polícia Civil. Sem titubear, Turnowski exonerou seu então braço direito, delegado Carlos Oliveira, que retornou à Secretaria municipal da Ordem Pública. A justificativa para a exoneração foi que Oliveira não havia atingido as metas exigidas pela Secretaria de Segurança. Turnowski tentou mostrar alguma lealdade a Beltrame.
Como a Operação Guilhotina, da Polícia Federal, não obteve provas contundentes contra Turnowski ele foi mantido no cargo, a despeito do constrangimento de ter sido chamado para prestar esclarecimentos sobre o que faziam de errado os policiais que eram administrativamente ligados a ele. Em qualquer país sério Turnowski cairia porque não se pode admitir que uma autoridade na polícia desconheça ilegalidades praticadas por seus subordinados. Por um dois até se entende. Mas por quatro quadrilhas que vendiam proteção para traficantes, milicianos e contraventores, é muita gente pra guardar segredo de alguma coisa. Qualquer pessoa com QI médio é capaz de perceber ou ao menos suspeitar de algo de errado que acontece ao seu redor.
A inteligência de Turnowski é com certeza acima da média. Ao notar que aumentava o calor da fritura (Beltrame disse no sábado que ninguém, nem o chefe da Polícia, tem carta branca para agir), Turnowski partiu para o ataque. Seu alvo foi justamente o delegado Claudio Ferraz, que colaborou com a Operação Guilhotina, e contava com total apoio de Beltrame. Tanto assim que o secretário tratou de convidá-lo para o novo cargo de subsecretário da Contra Inteligência - ligado à Subsecretaria de Inteligência - e levar a Draco (Delegacia de Repressão às Atividades Criminosas Organizadas) para o guarda-chuva da Secretaria de Segurança. Com a medida, Beltrame pretendia dar carta branca a Ferraz para combater a banda podre na Polícia Civil. Coragem não falta a Ferraz, que foi o principal responsável por mais de 500 prisões de milicianos, policiais e ex-policiais civis e militares, que não eram incomodados desde o governo que antecedeu o de Cabral.
Convicto de que estava prestes a cair, Turnowski atacou com uma denúncia anônima para manchar seus oponentes, que alega ter recebido em casa na noite de domingo. A verdade é que essas supostas denúncias de extorsão já estavam rolando nos bastidores, mas havia fortes suspeitas de que os documentos seriam apócrifos. Não existe santo na polícia, mas o delegado Claudio Ferraz não daria tanto mole depois de botar em cana mais de cinco centenas de milicianos sedentos de vingança. Com a habilidade de um enxadrista, Turnowski deu um xeque ao usar inclusive o mesmo discurso de Beltrame: o combate à corrupção na polícia. Com certeza um golpe de mestre. Se deixasse o cargo, Turnowski cairia arrastando a imagem de outros com ele, especialmente de um que conta com o apoio de Beltrame.
O único lance mal dado por Turnowski foi quando afirmou, numa entrevista na TV, que se Ferraz fosse seu subordinado não pensaria duas vezes antes de exonerá-lo, apesar de o inquérito na Corregedoria ter sido aberto ontem e com base numa denúncia anônima - algo que os policiais detestam admitir usar, para investigar seus pares. A afirmação de Turnowski, de que exoneraria o colega, a meu ver insinua que o secretário de Segurança estaria prevaricando se não o fizesse. Com a firmeza com que apresentou as supostas denúncias envolvendo Ferraz, Turnowski tentou dar um golpe na opinião pública. Com tanto escândalo vindo à tona, muita gente não consegue mais distinguir mocinhos de bandidos. Com tanto criminoso para ser preso, é triste ver os policiais não se entenderem na cúpula. Depois da vitória celebrada na conquista do Alemão, é lamentável o nível de disputa pelo poder dentro da própria polícia.
O que Turnowski pode ter esquecido é que Beltrame, com a credibilidade conquistada pela redução dos índices de criminalidade e o relativo sucesso do projeto de pacificação de favelas, se tornou o grande avalista da política de segurança do governo Cabral, uma das pontes que o levou à reeleição. Beltrame goza de grande prestígio nas mais diversas camadas sociais do Rio e do país e essa popularidade lhe daria vantagem até mesmo numa eventual corrida política. Entre Turnowski e Beltrame, o governador Sérgio Cabral não tem dúvida de quem pode abrir espaço para suas ambições políticas. A dificuldade de Cabral será obter uma saída honrosa para Turnowski, sem deixar insatisfeitos os grupos que apoiam o chefe da Polícia e órfãos os policiais civis que têm nele um dos maiores líderes que já passaram pelo cargo.
fonte: BLOG Repórter de Crime
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