João Pequeno, Jornal do Brasil
RIO - Eliminados no sorteio da prefeitura para definir os 82 titulares da Feira Noturna Lapa Legal, alguns camelôs antigos do bairro boêmio do Centro vêm contando com a solidariedade de velhos colegas para continuarem trabalhando no local cujo hype ajudaram a criar. No primeiro fim de semana da Lapa Legal – aberta oficialmente na quarta – cerca de 10 barracas eram divididas por duplas de camelôs, formando misturas de pizza com caipifruta e cerveja com yakisoba.
Sorteado pela prefeitura em junho, Marcelo Salotto, de 29 anos, espremeu os limões, morangos e maracujás com que faz suas caipifrutas em um espaço menor para ceder metade de sua barraca e “ajudar uma amiga”, no caso, Rosêngela de Oliveira, a “Tia de Pizza”, 50 anos de vida e 12 de Lapa, mas que ficou de fora no sorteio.
– Fiz por livre e espontânea vontade e garanto que, fosse o contrário, ela faria o mesmo. Não acho justo que o camelô antigo, que criou a Lapa seja retirado assim – afirma Marcelo, que ainda tem a chance de aproveitar os clientes da pizza de Rosângela. – E vice-versa. A bebida gelada, cerveja e refrigerante, a gente compre junto e divide a venda – completa.
– Jura? – perguntou, incrédula, a atriz Andressa Bittencourt, 32 anos, ao saber que a “Tia da Pizza” não tinha mais permissão para vender na Lapa. – Frequento aqui há mais de 10 anos, adoro essa pizza e acho que deveria ser levado em conta o histórico dos vendedores.
Antes de falar com o Jornal do Brasil, Andressa abraçou a “Tia”, que aproveitou para comentar. – Tá vendo? A gente tem clientela formada. Como é que (a prefeitura) dispensa quem tem cliente e coloca quem não tem? Ficop contente porque isso a qualidade do nosso trabalho – desabafa.
Mais adiante, o sorteado André Luís Pacheco, 30 anos, acrescentou aos seus yakisobas as cervejas do isopor de Marta Jacinto, de 32, que havia ficado de fora após trabalhar “por mais de 10 anos” na Lapa.
– Achei a iniciativa da feira até boa; isso aqui está mais organizado, mas os antigos deveriam ser mantidos. A Lapa não começou do zero, mas com eles – opinou.
Creuza Rodrigues, 49 anos, que chegou a chorar quando perdeu a vaga no sorteio em junho, também vem dividindo uma barraca com outro veterano da Lapa, Jésus Meira Junior, de 50, que foi sorteado. Ela segue vendendo caipirinha e caipifruta, como faz há 18 anos, enquanto ele continua vendendo cerveja.
– Nos ajudamos porque sempre estivemos juntos aqui, com sol ou com chuva – afirma Junior.
Quem não conseguiu barraca para dividir, porém, ficou sem ter como trabalhar, caso de José Feliciano Tavares, de 39 anos, 23 deles como camelô, que foi impedido de montar sua barraca na Travessa do Mosqueira. – A fiscalização está pesada – comentou.
Seop: sorteio é democrático
O sorteio para quem trabalhar na Feira Noturna Lapa Legal foi abeto, não levando em conta se os candidatos trabalhavam na Lapa ou não. Alguns que nunca haviam sido camelôs no bairro foram sorteados, o que provocou protestos de vendedores antigos. Responsável pela seleção, a Secretaria Especial da Ordem Pública (Seop) afirma que adotou o sorteio por ser “democrático e não discricionário”.
21:06 - 09/08/2009
fonte:JB ONLINE
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