segunda-feira, 26 de julho de 2010

Silvio Santos – “Como me tornei Camelô”


“Eu ia passando pela avenida Rio Branco [Rio de Janeiro] quando vi um homem gritando, vendendo capinhas de plástico para colocar os títulos de eleitor. Ele vendia aquilo com enorme facilidade. Todo mundo comprava aqueles porta-títulos por 5 cruzeiros. Quando o camelô acabou de vender uma remessa de carteirinhas, saí atrás dele, de mansinho, para ver onde ele ia buscar mais. Ele comprava as carteiras no atacado… E ganhava mais de 50% com a venda aos transeuntes, na avenida. Assim que ele se afastou da loja, entrei e comprei uma carteirinha por 2 cruzeiros. Vendi-a na avenida dizendo que era a última. Fui buscar mais duas. Coloquei uma no bolso e sacudi a outra dizendo que era a última. Vendi-a repidamente. Em seguida, dei alguns passos, disfarcei, demorei alguns instantes e tirei outra do bolso… E foi assim que me tornei camelô. Dizem até que aquela moeda de 2 cruzeiros com a qual comprei a primeira carteirinha foi a moeda do Tio Patinhas….”

“Naquela época fiquei sabendo que havia apenas 12 ou 13 pessoas vendendo na rua. Mas vendiam mercadorias de má qualidade: ‘Olha a bola de gude, olha o tecido, olha o anel’. Achei que sendo estudante, não ficava bem vender usando aquele método tão primitivo, tão sem classe. Foi quando descobri o ‘Seu’ Augusto, o alemão das canetas. ‘Seu’ Augusto ficava parado lá na avenida Rio Branco, perto da Getúlio Vargas, vendendo canetas. Mas só trabalhava uma hora por dia. Chegava armava a sua banquinha, dessas de abrir e fechar, e começava a falar com o público. De repente havia aglomeração em sua volta, e ele falava das canetas, explicava como funcionavam, falava, falava, dava o preço… Em um instante esgotava o estoque…Foi quando pensei, aí tem coisa. E fui espionar o trabalho do alemão das canetas. Ele vendia 100, 200 canetas em uma hora…’Seu’ Augusto era considerado o melhor camelô do Rio de Janeiro. Então tomei aquilo como um desafio. Todo o dia ia ver o ‘bicho-de-sete-cabeças’ trabalhando. Ele me via, sabia que eu estava ali aprendendo com ele, mas não se incomodava, porque muitos já haviam feito a mesma coisa e ninguém conseguia vender como ele. Depois de uns dias…comprei as canetas, mandei fazer uma banqueta igual à do alemão e me postei na esquina da avenida Rio Branco com a Sete de Setembro. Como eu achei que consquitar o público só na fala seria um pouco difícil, aprendi algumas manipulações de moedas e de baralhos. Quando eu começava com aquelas manipulações, com aquelas mágicas, primeiro paravam umas crianças e ficavam olhando. Depois vinham os desocupados. Por fim, toda a gente. E eu lá, garoto bem falante, começava a apregoar a qualidade das canetas…Nos primeiros dias eu vendia de 50 a 60 canetas, mas em pouco tempo passei a vender mais que o ‘Seu’ Augusto. Por diversas vezes os jornais publicavam reportagens sobre o garoto que conseguia prender diante de si um público enorme…Trabalhava das onze ao meio-dia, horário em que o guarda ia almoçar. Eu tinha realmente o poder de comunicação. E com esse poder de comunicação ganhava por dia o equivalente a a quase cinco salários mínimos, que naquele tempo era de 200 cruzeiros antigos. Daí em diante nunca mais me faltou dinheiro. Ganhava até mais do que precisava….”



“Eu tinha um ‘farol’, meu companheiro de trabalho. Era o Pedro Borboleta, sobrinho do Adolpho Bloch, o dono da Manchete. O ‘farol’ era a pessoa que ficava ao meu lado, fingindo que comprava as bugigangas, quando o guarda aparecia. Várias vezes o ‘rapa’ me pegou. Aí eu perdia tudo, mas depois começa tudo de novo…”

FONTE:galizian.wordpress.com

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