Venda de apólices contra acidentes pessoais cresce 34% no Rio, mais que a média nacional. Empresas já citam a violência para atrair clientes
POR FRANCISCO EDSON ALVES, RIO DE JANEIRO
Rio - Cidade em que bala perdida foi eleita o maior pavor dos moradores, o Rio alimenta um mercado de vendas de seguros de acidentes pessoais que cresce no mesmo ritmo das rajadas de fuzis ouvidas rotineiramente no município. De acordo com o presidente do Sindicato dos Corretores e Empresas Corretoras de Seguro do Rio (Sincor-RJ), Henrique Brandão, esse produto tornou-se um dos mais vendidos pelos mais de 100 bancos e seguradoras que atuam no estado. Segundo ele, esse plano — que cobre ferimentos por bala perdida — cresceu 34% no Rio, contra 28,36% em todo o País, em média. Esse mercado do medo movimenta R$ 110 milhões.
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Foto: Uanderson Fernandes / Agência O DIA.“Os problemas sociais transformaram os cariocas em reféns da insegurança coletiva, fazendo-os adquirir cada vez mais essa cultura de ter seguros de acidentes ou de vida”, afirma Brandão. Ele ressalta que as seguradoras passaram a oferecer planos para todas as classes: “Há mensalidades de R$ 5 a R$ 10 mil, com prêmios de R$ 10 mil a mais de R$ 1 milhão”.
Para chamar a atenção de clientes em potencial, algumas instituições, como o Banco Mercantil do Brasil, incluíram expressão ‘bala perdida’ em suas propagandas na Internet. Outras, usam o argumento na busca de segurados pelo telefone. A designer gráfica Patrícia Alves se surpreendeu com a abordagem do corretor de um banco que lhe telefonou na semana passada. “Ele me perguntou se eu não estava interessada num seguro de acidentes pessoais que cobria até incidentes com bala perdida. Pensei comigo: ‘meu Deus, a que ponto chegamos!’”, comentou a designer. Ela recusou a proposta porque mora no Sul Fluminense, bem mais tranquilo que a capital.
Já o taxista Eraldo França, 55 anos, tem na gaveta apólice com cobertura também para sua mulher e o casal de filhos. “Já perdi a conta de quantas vezes fiquei sob fogo cruzado, como há 10 dias, perto do Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho. Além disso, fui assaltado em 2006, quando fui agredido com uma barra de ferro na cabeça que quase me tirou a vida. Me preocupo com meus parentes o tempo todo porque não há mais lugar seguro no Rio”, constata França, com a experiência de quem ganha a vida dirigindo por toda a cidade há 28 anos. O motorista paga, por mês, R$ 27,83 pelo seguro.
A proximidade de uma área conflagrada também levou o analista de sistemas J., 37 anos, a se precaver como França. J. mora num dos muitos prédios vizinhos ao Morro São João, em Engenho Novo, onde traficantes estão em guerra contra rivais do Morro dos Macacos, em Vila Isabel. “Após cada tiroteio, recolhemos dezenas de cápsulas na área de lazer. Uma delas pode matar qualquer um de nós, a qualquer momento. Temos de ter algum tipo de proteção”, diz o analista cujos amigos chamam a região de ‘Bagdá carioca’.
fonte: O DIA online
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