quarta-feira, 20 de maio de 2009

O crack é o verdadeiro caveirão da miséria

O crack é o verdadeiro caveirão da miséria", diz Leonel Brizola Neto
Thiago Feres | Rio+ | 20/05/2009 15:45
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A disseminação do uso do crack entre crianças e adolescentes, principalmente das áreas mais pobres da cidade, mostra que a droga encontrou no Rio de Janeiro, entre os excluídos, um terreno fértil para um negócio lucrativo. O vereador Leonel Brizola Neto é o responsável pela campanha "Crack - Tire esta pedra do seu caminho ", que tramita na Câmara de Vereadores do Rio. Ele visitou a redação do SRZD e destacou que a droga é mortal, principalmente para as crianças pobres e que habitam as ruas da cidade. Leonel Brizola Neto enfatizou que devido aos lucros obtidos com a venda do crack, algumas comunidades já produzem a droga.

"Eu conversei com moradores de algumas comunidades que afirmam que o crack já está sendo produzido dentro das favelas. Eles (traficantes) pegam uma panela, jogam o pó da cocaína misturado com alguns produtos químicos, mais amônia e água. Em seguida, colocam para ferver. Isso evita que a droga entre no país, por intermédio das fronteiras, o que também acontece", frisou.

Leonel Brizola Neto garantiu que o crack é o verdadeiro "caveirão da miséria".

"Essa droga é extremamente perigosa, principalmente entre as crianças que vivem na miséria. O crack dizima o garoto de rua. Os efeitos são devastadores e a imagem de uma criança sob o efeito do crack é muito pior do que as cenas divulgadas pelas televisões dos jovens da Etiópia. Seres humanos desmilinguidos, 'ossos e pelanca', num verdadeiro estado deprimente. Essa droga é o verdadeiro "caveirão da miséria."

O vereador Leonel Brizola Neto apontou como saída para solucionar os problemas das crianças e dos adolescentes envolvidos com crack, um maior compromisso dos órgãos públicos de todas as esferas. "Jovens de nove anos são corrompidas e se prostituem, além de serem abusadas sexualmente." De acordo com ele, falta um aporte financeiro. "Darcy Ribeiro dizia que se não houvesse investimento em crianças hoje (isso há 20 anos atrás), no futuro teríamos medo das crianças. O crack modifica o comportamento delas e as deixam agressivas. Eu visitei um abrigo e as portas tinham buracos que foram feitos por socos de crianças de apenas 6 ou 7 anos."

Atualmente, foram diagnosticadas 33 crackolândias no Rio de Janeiro. A droga possui um efeito devastador, dez vezes maior do que a cola, que era utilizada pelos moradores de rua anteriormente. Dados da secretaria de segurança pública apontam que a droga já está sendo comercializada em trezentas, das quase mil favelas que o Rio possui, segundo estatísticas do Instituto Pereira Passos (IPP).

O primeiro passo para uma mudança neste triste quadro apresentado pelo Rio de Janeiro seria a construção de uma casa adequada para crianças e adolescentes, com tratamento de qualidade e específico para estes menores de idade. Um lugar que ofereça alimentação, educação, cultura, esporte e religião, de acordo com o vereador Leonel Brizola Neto. No Rio, existe apenas uma casa de recuperação com capacidade para 20 pessoas, mas abriga apenas 4. "O quadro é deprimente. O lugar é um presídio. Ali é uma fábrica de monstros." Dos 250 mil jovens que entram no ensimo médio da rede estadual, apenas 80 mil concluem o curso.

O vereador encerrou a conversa sobre este assunto indagando para onde vão estas crianças que deixam o ensino médio e destacou a importância de criar outros abrigos para que as autoridades possam traçar uma linha para vislumbrar a recuperaração dos jovens que estão envolvidos com o crack.

Críticas ao Choque Ordem de Prefeitura:

"O Choque de Ordem está enveredando para um caminho autoritário", foi dessa forma que Leonel Brizola Neto definiu as ações de Choque de Ordem que estão sendo realizadas pela Secretaria Especial da Ordem Pública, desde o início do ano, sob o comando do secretário Rodrigo Bethlem.

"O Rodrigo Bethlem que possui suas posições, é um politico muito preparado, mas ele não pode se enveredar por um caminho tao autoritário. Não pode ser assim. A cidade necessita de uma adequação urbana, mas não pode ser desta forma que está sendo feita. O Bethlem não compareceu a nossa audiência pública e mandou um subsecretário como representante. Lá, ele não explicou de que maneira o Choque de Ordem pode contribuir para amenizar esse problema das crianças de rua e do envolvimento com drogas, como o crack. Este não é caso de Polícia, e sim, de saúde e educação", garantiu Brizola.

A Câmara de Vereadores, através do vereador Leonel Brizola Neto, solicitou algumas informações junto as secretarias para saber o que vem sendo feito no combate ao consumo de crack pelos jovens no Rio, mas grande parte das secretarias ainda não enviou resposta. Apenas o secretário da habitação da Prefeitura do Rio, Jorge Bittar, enviou resposta ao vereador. Ele foi questionado sobre os orçamentos do programa favela-bairro e enviou a seguinte resposta. "O favela-bairro ainda não possui orçamento porque está aguardando verbas do BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento -, mas ainda não se sabe quais comunidades serão beneficiadas, dependendo do custo-benefício." O vereador Leonel Brizola Neto questionou a resposta em tom de revolta. "Custo-benefício para quem? Estamos falando de seres humanos", destacou.

No próximo dia 5 de junho, será realizada uma audiência pública, na Câmara de Vereadores, juntamente com as autoridades pertinentes, para discutir a questão da construção de muros de três metros de altura para delimitar o espaço das favelas do Rio. Ao todo, o governo do estado deve gastar cerca de R$ 22 milhões. Leonel Brizola Neto discorda da atitude e prevê uma catástrofe, caso ocorra incêndios nestas favelas.

"Se ocorrer um incêndio da parte mais baixa para a mais alta do morro. Para onde corre essa população?", indagou. E concluiu. "Porque não colocam muros nas casas de Angra dos Reis que estão avançando na Mata Atlântica?", finalizou.

Ainda durante a visita a redação do SRZD , o vereador conversou com o jornalista Sidney Rezende. Ele fez críticas as políticas de segurança adotadas pelo governador Sérgio Cabral. A entrevista você acompanha abaixo.


fonte: SIDNEY REZENDE.

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