sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Chico Alencar: A favor da descriminação da maconha

Deputado federal (PSOL-RJ)

Rio - Uma moradora de favela, evangélica, mãe de quatro filhos, surpreendeu-me ao falar sobre violência: “Só vamos ter algum começo de paz quando as drogas não forem mais proibidas. Do jeito que está, não seguro nem os meus filhos, e já sei o fim que vão ter”.

Sua opinião, radical, era em defesa da vida. E autêntica: conhecia os horrores do tráfico. Sabia, pela lição do dia a dia, que a repressão policial ao negócio “enxuga gelo”, aumenta a corrupção e ceifa vidas — de ambos os lados e de quem não tem lado nessa guerra sem fim. Ela afeta principalmente a juventude pobre, e não os poucos que lucram de verdade com o negócio do narcotráfico.

Sem conhecer a opinião de autoridades como os ex-presidentes FHC, Cesar Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo (México), a senhora sem escolaridade concluía o mesmo: “Em vez de prender essa meninada, ou achacá-la, é preciso educação, acompanhamento médico para o viciado e desarmamento dos que se impõem como ‘donos’ do pedaço”. No lugar de tiros e ocupações que não duram, pede oportunidades de formação, trabalho e cultura. Discriminalizar o uso de drogas, não o porte de armas letais e ilegais!

Afinal, qual o gasto público mais inteligente? Um”Caveirão” de R$ 350 mil ou um posto de saúde de R$ 500 mil? Cadeia a R$ 600/mês o preso, ou um professor de R$ 900?

Reconheçamos: mesmo nas áreas onde a chamada “Polícia Pacificadora” derrotou o poder despótico do narcotráfico, o uso de drogas proibidas não acabou. Apenas ficou mais discreto. Como problema social, e não apenas individual, o uso de narcóticos precisa ser enfrentado com políticas de saúde, e de educação, e não com polícia e prisão.


fonte: O DIA

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