O prefeito disse que não tocará no comércio ambulante da Lapa antes do carnaval. Somente depois. Ora, mais uma prova de cinismo e estupidez. Ele admite a importância social e econômica do comércio ambulante, o qual, longe de atrapalhar o comércio formal, ajuda-o a faturar diariamente, já que as pessoas sempre vão preferir beber sua cerveja sentados em mesas, confortavelmente, e ao mesmo tempo, sempre preferem frequentar lugares animados, com gente bonita e jovem desfilando pra lá e pra cá. O comércio ambulante ajuda a encher a Lapa, e ocupa os espaços. A criminalidade na Lapa é baixa. Existe, claro, mas é baixa. Enfim, o que o prefeito quer? Quer "usar" o camelô, que anima o centro, e depois descartá-lo? Será um tremendo tiro no pé. Não será o primeiro nem o último prefeito a atacar os camelôs. Lembro que vi, numa dessas exposições, uma charge do início do século XIX mostrando um ambulante fugindo do "rapa". A Lapa mesmo já foi alvo de repressão anti-ambulante por diversas vezes. Como morador do bairro, posso atestar. O resultado sempre foi negativo. A um comércio ambulante estável, organizado, tranquilo, sucedia-se o banditismo desenfreado. Às ruas cheias de música e diversão inocente, sucediam-se ruas escuras, sinistras, tomadas por traficantes perigosos. E por fim os camelôs sempre voltam. Voltam e dão estabilidade e segurança às ruas. Mas voltam, sempre. Prefeitos passam, os camelôs ficam. Por quê? Por que o camelô é uma atividade econômica consagrada no Rio de Janeiro e em todo Brasil. Um dia, no futuro, será uma profissão regulamentada no Ministério do Trabalho, farão estátuas em sua homenagem e o Congresso instituirá o Dia Nacional do Camelô.
fonte: Escrito por Miguel do Rosário # Domingo, Fevereiro 01, 2009
# Etichette: Artigo, Política, Rio de Janeiro
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