sábado, 10 de abril de 2010

É preciso agir para evitar novas tragédias no Rio de Janeiro




O momento, embora seja de tristeza, é propício para se debater um assunto polêmico: as construções em áreas de risco. O preço para morar em um terreno condenado pela Defesa Civil não é pago em dinheiro. A vida é a moeda desta negociação.

Com o objetivo de reordenar a cidade e, principalmente, salvar vidas, a Prefeitura realizou dezenas de operações Choque de Ordem para demolir prédios e casas construídos de forma irregular, sem as garantias mínimas necessárias. Esses imóveis poderiam estar na estatística de desmoronamentos desta trágica terça-feira, 6 de abril.

Não me permito a fazer política hipócrita de defender a manutenção de edificações em áreas onde a morte é certa e fazer críticas às ações, como as do Choque de Ordem, a fim de rotulá-las de operação contra pobres. Enxurradas como as desta semana nos mostram que são os mais pobres justamente que pagam com a vida por morarem em áreas de risco.

Erram aqueles que preferem não ter desgaste político e ignoram essas construções irregulares. Em outras palavras, negligenciam a vida de famílias inteiras ceifadas pelos deslizamentos ao fecharem os olhos para o problema. É preciso uma ação enérgica do Poder Público contra edificação ilegais, principalmente em áreas de absoluto risco. Sejam elas em comunidades ou em áreas consideradas nobres.

E é preciso fazer isso sem medo da reação dos críticos de plantão. O remédio é amargo, mas precisamos recuperar essas áreas com replantio, limpeza e obras de contenção. E mais do que isso, garantir segurança à população de baixa renda que tem, ao longo de décadas, ocupado essas regiões para onde, na maioria das vezes, os olhos do poder público não estão voltados.

Falar em demolição e remoção de famílias em área de risco é também pôr em questão o critério usado pela Justiça para concessão de liminares que impedem a ação da Prefeitura. Depois de muita negociação, só agora estamos conseguindo dar prosseguimento às demolições no Recreio, verdadeiras aberrações urbanísticas que não respeitam as regras estabelecidas. É preciso dizer não à demagogia e ao populismo. O preço que a cidade pagou pela omissão é muito alto.

Foram 42 operações de Choque de Ordem contra construção irregular. Até a primeira semana de março de 2010, 1.200 unidades comerciais e residenciais foram demolidas, mais de 80% delas em áreas de favelas. Em Rio das Pedras, foram 11 prédios em situação de absoluto risco. Foram removidas 52 construções a beira do canal na Cidade de Deus, mais de 18 barracos no costão da Niemeyer e outros oito na Grajaú-Jacarepaguá, entre outras ações preventivas em áreas de deslizamento apontadas pela Geo-Rio.

Tenho a certeza de que defendemos com o Choque de Ordem ações de cidadania e garantia à vida. É preciso agir, ainda que o momento seja de dor e tristeza, para evitarmos novas tragédias. Não podemos mais usar como desculpas a falta de planejamento urbano do passado e permitir o crescimento das favelas e a construção em encostas.

fonte:Publicada por Rodrigo Bethlem

Nenhum comentário: