8 de abril de 2010
Por João Marcello Erthal
Chuvas fortes nessa época do ano são anteriores a qualquer construção no Rio de Janeiro. Mas temporais, ainda que ocorram com certa regularidade, conseguem apanhar a cidade sempre despreparada. Sucumbir a um fenômeno natural periódico e previsível - por vezes com intensidade anormal, como esta semana - é, para o coordenador do Observatório de Metrópoles do CNPQ/Faperj, Luiz Cezar de Queiroz Ribeiro, um dos sintomas de que as metrópoles abriram mão do planejamento urbano.
Ribeiro, professor titular do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ) toma como exemplo outro flagelo recente do Rio para demonstrar a fragilidade das grandes cidades diante de ameaças anunciadas. "Com a epidemia de dengue de poucos anos atrás, foi a mesma coisa. Conheciam-se os riscos, havia números que indicavam a aproximação da epidemia e o poder público só conseguiu agir depois, com hospitais de campanha", lembra.
Rio e São Paulo lideram, por serem as maiores capitais do país, o processo que o coordenador do Observatório de Metrópoles chama de "empresariamento" das cidades. "Administra-se por projetos, de forma a criar obras que sejam atraentes para o investidor privado. Renovação do Porto, revitalização da Lapa, urbanização de favelas. A administração é por exceção, por operação, por emergência, não-racionalizada. Abriu-se mão de planejar com informação", analisa, apontando a ausência de uma estrutura de drenagem e prevenção de deslizamentos como um dos efeitos dessa forma de gerenciar as metrópoles brasileiras.
No vazio de intervenções planejadas, obras pontuais despontam como soluções. E por vezes parecem mais do que são e mais do que podem promover para a população. Projetos de urbanização de favelas, acredita Ribeiro, têm sido confundidos com políticas habitacionais ou sociais. "Urbanizar favela não é política habitacional, nem social. É política de segurança pública", afirma. Neste momento do Rio, no entanto, poucas coisas podem ter mais apelo e aprovação popular que uma política de segurança que apresente resultado – e será difícil convencer algum carioca do contrário, ainda que as favelas continuem à vista.
A ocupação irregular de encostas no Rio, acentuada nos últimos 30 anos, avançou sobre o mesmo vácuo de planejamento que outros problemas estruturais da cidade. "Por um lado, havia um empobrecimento vertiginoso de uma parcela da população a partir de década de 80. Por outro, a falta de transporte público, oferta moradia, oportunidade de renda em áreas distantes das áreas centrais. Era mais fácil e mais barato, então, deixar a população empobrecida ocupar o morro e ficar por perto".
A frase do então vice-governador Darcy Ribeiro, que no início dos anos 80 afirmou que "favela não é problema, é solução", tornou-se epíteto dessa forma de encarar a expansão das favelas. Não por acaso, os dois governos de Leonel Brizola são apontados como marco da explosão da favelização no Rio e de um ciclo de omissão dos gestores.
fonte:veja.com
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