quarta-feira, 16 de junho de 2010

Governo faz mutirão para tratar vítimas do crack

Jornal do Brasil

BRASÍLIA - Um mutirão de órgãos públicos, no âmbito federal, atua dentro de uma nova ofensiva para estancar o avanço do consumo de crack e, ao mesmo tempo, oferecer alternativas de recuperação aos dependentes, vítimas de uma das mais devastadoras entre as drogas ilícitas. A estratégia é substituir a repressão por uma política mais próxima dos direitos humanos, de aproximação com os dependentes e de encaminhamento destes ao serviço de saúde pública.

No orçamento deste ano, o Ministério da Saúde destinou R$ 180 milhões para lidar com cerca de 600 mil dependentes de crack espalhados pelo país, três vezes mais do que foi investido no ano passado. Também está dobrando o número de leitos no Sistema Único de Saúde (SUS), que este ano deverá chegar a 5 mil em hospitais gerais, e vai financiar outros 35 mil em estabelecimentos psiquiátricos para tratar usuários de crack.

Três medidas formam o carro-chefe dos programas coordenados pelo Ministério da Saúde: internação (voluntária ou forçada, esta última garantida por lei), o atendimento ambulatorial e, a principal, as ações desenvolvidas diretamente nas chamadas cracolândias, onde os profissionais da rede de saúde vão em busca de novos casos de dependência.

– Na retaguarda, estão sendo desenvolvidas ações de inclusão social por meio das casas de acolhimento transitório – informa o coordenador de Saúde Mental e Drogas do Ministério da Saúde, Pedro Gabriel Delgado.

Inovação

Uma das grandes inovações na abordagem dos dependentes é o consultório de rua volante, criado para os usuários regulares de crack, mas que atua também na redução de danos causados pela droga. A equipe de profissionais faz um diagnóstico completo do usuário, dá o atendimento clínico e, para controlar um dos mais graves efeitos do crack – que é a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis – chega a distribuir preservativos.

– O consultório de rua é a porta de entrada para o tratamento de dependentes do crack e de seus reflexos – explica Delgado.

Existem atualmente 14 consultórios de rua em funcionamento. Até o fim do ano, outros 20 serão instalados.

Casas de acolhimento atendem aos dependentes

As casas de acolhimento transitório fazem parte da nova abordagem em relação aos cuidados com os dependentes de crack, onde o governo atua junto a organizações não governamentais para atender as necessidades básicas dos chamados povos de rua, segmento em que a droga é mais devastadora. O governo federal vai bancar a construção de 60 casas do gênero este ano, e mais 70 pontos de acolhimento, mais simples.

Nesses locais, o dependente toma banho, faz um lanche e recebe orientações sobre caminhos para começar a deixar o vício.

Delgado diz que, mesmo nos casos extremos, em que o usuário esteja “em conflito com a lei”, os profissionais podem discutir com ele a melhor alternativa para sair da marginalidade, mas sem exercer ou executar papel de polícia, ou seja, mesmo que pratique pequenos delitos para comprar a droga, os enfermeiros e assistentes não os encaminharão à polícia. A internação voluntária surge como uma das alternativas, e a presença da polícia será cada vez menor.

Explosão

O governo ainda não tem uma pesquisa confiável sobre o tamanho da população dependente, nem sobre o impacto que o crack produz no sistema de saúde ou na sociedade. O número de 600 mil dependentes é retirado de um levantamento sobre os povos de rua nas capitais e cidades de grande porte e, aos olhos de qualquer especialista, é modesto em função da proliferação do consumo da droga em áreas urbanas e rurais entre a população de menor poder aquisitivo. A explosão do consumo se deu há cerca de cinco anos, com uma súbita mudança no mercado das drogas

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