sexta-feira, 12 de junho de 2009

A DOR DO ABANDONO

Era uma manhã de sol quente e céu azul
quando o humilde caixão contendo um
corpo sem vida foi baixado à sepultura.


De quem se trata? Quase ninguém sabe.
Muita gente acompanhando o féretro?
Não. Apenas umas poucas pessoas.


Ninguém chora.
Ninguém sentirá a falta dela.
Ninguém para dizer adeus ou até breve.


Logo depois que o corpo desocupou
o quarto singelo do asilo, onde aquela
mulher havia passado boa parte da sua
vida, a moça responsável pela limpeza
encontrou em uma gaveta ao lado da
cama, algumas anotações.


Eram anotações sobre a dor...
Sobre a dor que alguém sentiu por
ter sido abandonada pela família
num lar para idosos...


Talvez o sofrimento fosse muito
maior, mas as palavras só permitem
extravasar uma parte desse sentimento,
gravado em algumas frases:
Onde andarão meus filhos?


Aquelas crianças sorridentes que embalei
em meu colo, alimentei com meu leite,
cuidei com tanto desvelo, onde estarão?
Estarão tão ocupadas, talvez, que não
possam me visitar, ao menos para dizer
olá, mamãe?


Ah! Se eles soubessem como é triste
sentir a dor do abandono...
A mais deprimente solidão...
Se ao menos eu pudesse andar...
Mas dependo das mãos generosas dessas
moças que me levam todos os dias para
tomar sol no jardim...
Jardim que já conheço como a palma
da minha mão.


Os anos passam e meus filhos não
entram por aquela porta, de braços
abertos, para me envolver com carinho...
Os dias passam...
e com eles a esperança se vai...


No começo, a esperança me alimentava,
ou eu a alimentava, não sei...
Mas, agora... como esquecer que
fui esquecida?


Como engolir esse nó que teima em ficar
em minha garganta, dia após dia?
Todas as lágrimas que chorei não foram
suficientes para desfazê-lo.


Sinto que o crepúsculo desta
existência se aproxima...
Queria saber dos meus filhos...
dos meus netos...


Será que ao menos se lembram de mim?
A esperança, agora, parece estar
atrelada aos minutos...
que a arrastam sem misericórdia...
para longe de mim.


Às vezes, em meus sonhos,
vejo um lindo jardim...
É um jardim diferente, que transcende
os muros deste albergue e se abre em
caminhos floridos que levam a outra
realidade, onde braços afetuosos me
esperam com amor e alegria...


Mas, quando eu acordo, é a minha
realidade que eu vejo...
que eu vivo... que eu sinto...


Um dia alguém me disse que a
vida não se acaba num túmulo
escuro e silencioso...
Que a vida continua após a
morte, de uma outra forma...
Mas com certeza a minha matéria,
a minha mente, o meu eu dessa
vida que vivo agora,
com o nome que tenho...
nunca mais existirá!


E quando a morte chegar,
só restará a saudade que com o
passar do tempo se ameniza...
(se é que alguém vai sentir saudade
de mim, já que não sentem enquanto
ainda estou viva neste asilo)


Sinto que a minha hora está chegando...
Depois que eu partir, gostaria que
alguém encontrasse essas minhas
anotações e as divulgasse.


E que elas pudessem tocar os corações
dos filhos que internam seus pais em
asilos, e jamais os visitam...


Que eles possam saber um pouco sobre
a dor de alguém que sente o que é
ser abandonado...


P.S: SERIA HORA DE TODOS NOS REFLETIRMOS COMO ESTAMOS TRATANDO NOSSOS IDOSOS.

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