Autor de “Diário de Fernando - nos bastidores da ditadura brasileira”.
Rio - Pai-nosso que estais no céu, e sois nossa Mãe na Terra, criador da aurora boreal e dos olhos enamorados que enternecem o coração. Senhor avesso ao moralismo desvirtuado. Santificado seja o vosso nome gravado nos girassóis de imensos olhos de ouro, no enlaço do abraço e no sorriso cúmplice,
Venha a nós o vosso Reino para saciar-nos a fome de beleza e semear partilha onde há acúmulo, alegria onde irrompeu a dor. Seja feita a vossa vontade nas sendas desgovernadas de nossos passos, nos rios profundos de nossas intuições, na respiração ofegante dos aflitos,
Assim na Terra como no céu, e também no âmago da matéria escura e na garganta abissal dos buracos negros, nos arsenais da hipocrisia e nos cárceres que congelam vidas. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, e também o vinho inebriante da mística alucinada, a coragem de dizer não ao próprio ego.
Perdoai as nossas ofensas e dívidas, a altivez da razão e a acidez da língua, a cobiça desmesurada e a máscara a encobrir-nos a identidade, a indiferença ofensiva e a reverencial bajulação. Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e aos nossos devedores, aos que nos esgarçam o orgulho e imprimem inveja em nossa tristeza de não possuir o bem alheio,
E não nos deixeis cair em tentação frente ao porte suntuoso dos tigres de nossas cavernas interiores, às serpentes atentas às nossas indecisões, aos abutres predadores da ética. Mas livrai-nos do mal, do desalento, da desesperança, do ego inflado e da vanglória insensata e da flacidez do caráter, da noite desenluada de sonhos e da obesidade de convicções inconsúteis. Amemos.
fonte:jornal o dia.
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