domingo, 21 de junho de 2009

Teste do espeto: ‘churrascarias’ a céu aberto dão água na boca

‘O DIA’ pede a três ‘especialistas’ para analisar os churrasquinhos vendidos em pontos do Centro, Zona Norte e Zona Sul. A barraquinha que recebeu maior pontuação fica em Inhaúma, onde há até espetinho de bacalhau e codorna
POR ÉLCIO BRAGA, RIO DE JANEIRO

Rio - O DIA reuniu júri para eleger o melhor churrasquinho de rua do Rio. Tarefa árdua, mas saborosa. Três jurados se guiaram pelo faro: escolheram os espetinhos mais populares no Centro, Zona Sul e Zona Norte. Onde havia fumacinha, lá estavam eles em busca dos prazeres da carne.

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O churrasqueiro Sérgio Salvador Araújo, dono da barraca Churrasco do Serginho, que fica na Saída 4 da Linha Amarela: mais de 1.500 por noite.O trio avaliou os concorrentes em quatro quesitos — apresentação, sabor, qualidade e tempero. Estipulou que, de acordo com o desempenho, daria de um a cinco espetos em cada item. E detalhe: só se provou carne bovina.

A disputa foi carne de pescoço. O vencedor conquistou o fictício troféu ‘Espeto de Ouro’ por apenas um ponto: Churrasco do Serginho, com 48 ‘espetos’. Sergio Salvador, 39 anos, comanda quase uma churrascaria a céu aberto, na Rua do Lazer, Saída 4 da Linha Amarela, em Inhaúma. A variedade de carnes surpreende. Além de todos os tipos da bovina, oferece frango, codorna e até bacalhau na brasa.

Como se sabe, o melhor tempero é a fome. Por isso, os jurados sabiam que não podiam se empanturrar nas primeiras paradas. Apenas degustavam pequenos pedaços preparados pelos candidatos ao título.

Nosso júri saiu faminto em uma sexta-feira à noite. A degustação contou com o cantor Ary Nunes, também produtor cultural e boêmio. Outro convidado foi o antropólogo Rolf Ribeiro de Souza, autor do livro ‘O que os homens de verdade falam em torno de uma carne queimando’. E o colunista Pedro Landim, que assina o blog ‘Boca no Mundo’ (www.odia.com.br/bocanomundo).

A grande vantagem do vitorioso foi oferecer novidade. Dão água na boca os espetos de medalhão de frango com ameixa (R$ 2), camarão (R$ 2,50) e misto de frango com linguiça e carne (R$ 2). O movimento impressiona. São até 1.500 espetos por noite.

Veja video da eleição do churrasquinho e ‘Tim Maia’ cantando enquanto assa carne


Para Pedro Landim, o resultado apertado mostra que os churrasqueiros prezam pela qualidade. Rolf destacou o lado social: “Uma das funções fundamentais do churrasco é a quebra da rotina de um dia estafante. As pessoas param num ritual de comensalidade para dar uma relaxada”, analisa. No fim da noite, os jurados estavam extasiados. Afinal, haviam participado de autêntico rodízio ambulante.

‘Tim Maia’ ganha freguês no gogó

Carlos Antonio Thompsom Ignácio, 47, o vice-campeão, usa o gogó para atrair fregueses. Calouro de programas de TV, ‘Tim Maia’, como é mais conhecido, dá canja enquanto assa a carne, em animado churrasco na Avenida Rio Branco com Rua Visconde de Inhaúma. “Se não tiver o pão de alho (recheado com carne), não vendo nada”, destaca ele, que berra para funcionários de drogaria quase em frente: “Aí, traz remédio de estômago para o freguês. Ele nunca comeu o meu churrasco”.

A saideira foi no Churrasco do Marcelo, há 15 anos na Rua Buarque de Macedo, Catete. “A carne deve ser boa e macia”, defende Marcelo Souza.

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Fumaça vira terapia contra estresse

O trio carnívoro saiu à caça dos melhores churrasquinhos. O primeiro foi o do Cícero, parada obrigatória na Rua Tadeu Kosciusko, na Lapa. “O segredo é saber escolher a carne e assá-la na medida”, avisa Cícero Lopes, 47 anos, e explicar a longevidade no ponto — 18 anos.

O Churrasco da Tia Beth fez sucesso. Fica na esquina da Avenida Almirante Barroso com Rua 13 de Maio, no Centro. “É aqui que descarrego meu estresse”, afirma o corretor André Rangel. Outro ponto que pega fogo é o Churrasco do Raimundo, na Rua São José. “Meu diferencial é o atendimento”, destaca Raimundo Felício, 45 anos, que trabalha com mais três ajudantes uniformizados.

Bom churrasqueiro fatura até R$ 4 mil com espetinhos

O cheiro do churrasquinho se espalha no Centro do Rio nos fins de tarde, especialmente às quintas e sextas. Segundo o consultor Jorge Gonçalves, analista de mercado de trabalho, ambulantes montam 115 pontos de vendas de carne no espeto na região. “Os de maior movimento comercializam de 600 a 700 espetos por jornada. Os menores ficam entre 50 e 80 espetinhos”, explica ele, que calcula a renda dos churrasqueiros entre R$ 1.800 e R$ 4 mil.

Jorge fez levantamento sobre esse mercado ano passado. “Os principais churrasqueiros usam picanha e carne de primeira”, observa o analista. “Os menos estruturados escolhem carne de segunda e usam molho shoyo para amaciá-la. Mas sabem que precisam oferecer o mínimo de qualidade. Caso contrário, o freguês some”, diz.

O consultor classifica como lenda a história de que os churrasquinhos de rua são de gato. “Daria trabalho arrumar a matéria-prima. É mais fácil comprar carne no açougue”, pondera.

Jorge teme que o choque de ordem ameace a tradição carioca. Se houver repressão, o comércio do espeto vai ser reduzido. A estrutura mobilizada é grande e prejudica a fuga. “Quem nunca comeu um churrasquinho na rua?”, pergunta.


fonte: jornal O DIA.

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