terça-feira, 5 de abril de 2011

Transplantes: um terço dos pacientes não será operado


Transplantes: um terço dos pacientes não será operado
Informação é de representante da Saúde do estado. Falta de médicos especializados e de doadores está entre os problemas

POR PÂMELA OLIVEIRA

Rio - Nem todas as pessoas que estão na fila por transplantes de órgãos conseguirão fazer a cirurgia. Segundo a médica Isabela Simões, assessora técnica da Central Estadual de Transplantes do Rio, um terço dos que aguardam morre antes da tão sonhada operação. “Se o paciente entra na fila do fígado, por exemplo, com hepatite fulminante, transplanta no dia seguinte, tem prioridade. Se tem câncer e precisa da cirurgia para não ter metástase, espera em média em dois meses. Mas se tem cirrose não grave, provavelmente nunca vai operar e vai morrer”, afirma.

Segundo ela, “cerca de um terço dos pacientes morre na fila”. “Transplante não é um remédio que se pode comprar na farmácia. Depende de doação da sociedade”, completa.

Mas a falta de doação não é o único entrave. “Os salários pagos pelo SUS são muito menores do que os oferecidos pela rede privada. Um anestesista que faz transplante, por exemplo, é muito especializado e experiente. É difícil encontrar um que queira sair de casa no fim de semana, feriado, de madrugada, para ganhar R$ 5 mil por mês. Ele vai ganhar mais do que isso fazendo cirurgias de varizes na rede privada e com menos risco de complicações”, descreve, referindo-se ao problema do Hospital Federal de Bonsucesso.

Referência em transplantes de fígado no Rio, o hospital deixou de fazer este tipo de procedimento em janeiro devido à falta de profissionais, conforme O DIA mostra desde 3 de fevereiro. Os anestesistas pararam porque não recebiam adicional de transplante. Duas crianças na fila, Bruna Pereira Brandão, 2 anos, e Andrew Araújo, 1 ano, foram transplantadas após denúncias de O DIA, com soluções improvisadas, como o trabalho voluntário de anestesistas. Matheus da Silva, 2, ainda espera pela cirurgia que salvará sua vida.

“O estado está buscando parceria com hospitais filantrópicos conveniados ao SUS. Em São Paulo, referência nacional em transplante, a maioria das cirurgias é feita na rede filantrópica conveniada. O Albert Einstein, por exemplo, fez 200 transplantes de fígado ano passado”, diz Simões.

Segundo ela, essas instituições recebem o valor pelos transplantes direto do Ministério da Saúde e podem pagar melhor aos profissionais. “O Rio está tentando cadastrar hospitais filantrópicos. Cadastramos o São Vicente de Paulo e o Hospital Silvestre”, conta.

Cardíacos não vão nem para a fila

Pacientes que precisam de um transplante de coração no estado do Rio não conseguem nem entrar na fila, segundo o coordenador de transplantes do Instituto Nacional Laranjeiras, Alexandre Siciliano. Hoje, apenas dez estão aguardando. “De acordo com a população deveríamos ter entre 90 e 100”, diz. Um dos pacientes à espera é Patrick Alves, 10 anos. A criança está ligada a um coração artificial à espera de doação.

“O Rio passou anos sem ter uma unidade de transplante cardíaco ativa e a sociedade médica perdeu a referência: não se sabe para onde encaminhar, como e quando indicar transplante”, afirma Siciliano.

SAIBA QUAIS SÃO OS ENTRAVES AOS TRANSPLANTES

PAGAMENTO DE MÉDICOS
A remuneração dos médicos é pequena em relação à especialização e à dedicação necessárias. São chamados em qualquer dia, inclusive de madrugada, e não recebem por isso. A rede privada paga mais.

POUCAS EQUIPES
Fazer transplante requer cursos específicos e especializações muito caras. Além da quantidade reduzida, as equipes são pequenas. Elas não têm médicos “de reposição”. Então, quando há transplantes para fazer, elas ficam sobrecarregadas.

SUBNOTIFICAÇÃO
Faltam equipes de busca de possíveis doadores nos hospitais de emergência. Muitas vezes, a notificação de morte encefálica sequer chega às centrais.

ESTRUTURA PRECÁRIA
A falta de estrutura dificulta que o órgão do possível doador seja mantido em funcionamento até que a captação seja possível.

RECUSA FAMILIAR
Muitos parentes não permitem a doação porque percebem que o paciente não recebeu atenção necessária, e que a família só passou a ser bem tratada quando a pessoa se tornou doadora.

CONTRAINDICAÇÕES
Órgãos de pessoas com doenças como tuberculose ativa, câncer, HIV e em uso de alguns medicamentos não podem ser usados e acabam sendo descartados

FALTA DE CONTINUIDADE
Em 4 anos e 3 meses a Central Estadual de Transplantes teve 5 coordenadores


fonte : O DIA ONLINE

Um comentário:

Ministério disse...
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