Vereador preso usava gabinete como escritório de quadrilha - O Globo:
Publicada em 13/04/2011 às 23h36m
Sérgio Ramalho
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RIO - O vereador Luiz André Ferreira da Silva (desligado na quarta-feira mesmo do PR), o Deco, usava seu gabinete na Câmara como escritório da milícia que comandava em 13 comunidades de Jacarepaguá. Preso na quarta-feira na Operação Blecaute - ação conjunta da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e do Ministério Público estadual - o político tinha um cadastro com nomes e números de títulos de eleitor de moradores. Há ainda documentos que indicam o desconto de parte dos salários de assessores. A partir da descoberta de promotores e policiais, Deco também será investigado por compra de votos e coação de eleitores. Ex-cabo paraquedista do Exército, ele assumiu sua vaga em fevereiro, no lugar de Liliam Sá (PR), eleita deputada federal.
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Deco é acusado de chefiar o grupo paramilitar que planejou matar a hoje chefe da Polícia Civil, delegada Martha Rocha, quando ela era titular da 28 DP (Campinho), responsável pela investigação de crimes do bando. A delegada confirmou que o Disque-Denúncia recebeu três ligações na época informando sobre o plano. Numa delas, a placa de seu carro chegou a ser mencionada corretamente. No entanto, na quarta-feira a chefe de Polícia Civil não relacionou os telefonemas ao grupo.
Policiais prendem, em casa, o vereador Luis André Ferreira da Silva, conhecido como Deco (Foto: Bruno Gonzalez / EXTRA / Agência O Globo)
O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que presidiu a CPI das Milícias, uma vereadora e uma promotora, cujos nomes não foram divulgados, também sofreram ameaças. Freixo disse na quarta que sabia do plano para matá-lo e lembrou que Deco era o último político da lista de citados na CPI das Milícias ainda com mandato. Mas afirmou que outros podem ser eleitos caso o poder desses grupos no Legislativo não seja eliminado:
- Não basta prender os mais conhecidos. Para combater milícias, é preciso instalar UPPs nas áreas controladas por eles. E atacar o braço financeiro, como a agiotagem na venda de gás ou o controle do transporte alternativo. E nisso o poder público tem responsabilidade.
Grupo movimenta R$ 400 mil mensais
Após um ano de investigação, promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) solicitaram à Justiça 14 mandados de prisão e 25 de busca e apreensão. O grupo de Deco domina comunidades onde vivem cerca de 150 mil pessoas e movimenta mensalmente valores de até R$ 400 mil.
Denunciado por formação de quadrilha armada para a prática de crimes hediondos, cuja pena máxima pode chegar a 12 anos, Deco foi preso numa casa tríplex, com circuito de TV e cerca eletrificada, no Pechincha, em Jacarepaguá. No imóvel, os policiais apreenderam uma picape Pajero, documentos, dois facões, dois computadores e pen-drives, que serão analisados pelos promotores. No momento da prisão, sua mulher e três filhos estavam em casa. Quando saiu preso, ele alegou que não era criminoso:
- Eu não participo de milícia nenhuma. Pode puxar a minha ficha que do 1º ao 4º artigo não tem nada contra mim. Isso tudo é política.
' Eu não participo de milícia nenhuma. Pode puxar a minha ficha que do 1º ao 4º artigo não tem nada contra mim. Isso tudo é política '
A milícia de Deco é suspeita de ter cometido pelo menos 30 assassinatos entre 2004 e 2010, nas comunidades de Chacrinha, Conjunto do Ipase, Covanca, Malto Alto e São José Operário, nas regiões de Praça Seca, Tanque e Campinho, em Jacarepaguá. Fubá e São José Operário acabaram anexadas pelo bando após a prisão de 40 milicianos numa operação realizada pela Draco em setembro passado. Segundo a polícia, o grupo do vereador é acusado de cobrar taxas dos moradores, fornecer ilegalmente sinais de TV a cabo e internet, controlar o transporte alternativo, estuprar, torturar e matar oponentes. A polícia ainda investiga um possível cemitério clandestino, onde corpos estariam enterrados.
O vereador é citado em seis inquéritos que apuram homicídios e outros seis por formação de quadrilha.
As investigações da Draco revelam que a milícia de Deco cobra de comerciantes taxa mensal de R$ 100. Mototaxistas são obrigados a pagar quinzenalmente R$ 30. Moradores pagam R$ 10 pelo fornecimento de água, que é cortado caso o valor não seja entregue nas associações de moradores ligadas ao esquema. O bando também explora 'gatonet' (R$ 30), internet (R$ 30), cobra ágio na venda de gás e um percentual de 20% na venda de imóveis. O grupo também estaria por trás da ocupação e venda de terrenos da prefeitura.
O braço-direito de Deco na quadrilha seria Hélio Albino Filho, o PM Souza. Apesar de não ser policial, ele era visto circulava uniformizado em patrulhas da PM. Na casa de Hélio, que está foragido, os policiais encontraram R$ 60 mil em dinheiro, joias e um cofre. Os demais integrantes do grupo são a presidente da Associação de Moradores da Chacrinha, Maria Ivonete Santana Oliveira; o presidente da Associação de Moradores do Conjunto do Ipase, na Praça Seca, Arilson Barreto das Neves, o Cabeção; Paulo Ferreira Júnior, o Paulinho do Gás; Edilberto Gomes Alves, o Bequinho, e os irmãos Gonçalo e Jorge de Souza Paiva. Até o fim da tarde, haviam sido presos Bequinho e Arilson Cabeção.
COLABORARAM Luiz Ernesto Magalhães e Vinícius Lisboa
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