sexta-feira, 22 de abril de 2011

Estado tem 25 crianças na fila por um leito de UTI

Médicos são obrigados a improvisar: até respiradores de ambulâncias são utilizados

Rio - A precariedade do sistema público de saúde do Rio de Janeiro faz com que 25 crianças que precisam ser internadas com urgência em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) não tenham esse direito. Instaladas em enfermarias e emergências, elas tentam lutar pela vida enquanto esperam por uma vaga na fila da Central Estadual de Regulação de Leitos.

No Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, da UFRJ, a falta de leitos de UTI obrigou a direção a apelar para o improviso: a enfermaria está sendo usada como UTI. O diretor da unidade, Edmilson Migowski, procurado por O DIA, relatou as dificuldades do instituto.

“Internamos seis crianças na enfermaria porque não estamos conseguindo leitos para transferência na Central Estadual. O número de crianças internadas com respiração artificial já é o dobro da nossa capacidade. Nesta UTI improvisada, estamos utilizando respiradores que são usados para o transporte de pacientes em ambulâncias. Se não conseguirmos transferência para parte das crianças, vamos ter que fechar a emergência”, afirmou.

Enquanto isso, o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, afirma que 13 leitos de UTI pediátrica estão sem uso na maternidade Leila Diniz. O motivo: falta de profissionais especializados.

“Aparelhos novos e leitos que nunca foram usados estão esquecidos há pelo menos três anos porque não há um intensivista pediátrico”, criticou o presidente.

“Isso é dramático. Se meu filho estivesse com insuficiência respiratória, eu gostaria que ele estivesse na UTI e não em uma enfermaria improvisada em UTI. Os equipamentos não são os mesmos. A equipe não tem o mesmo treinamento de terapia intensiva”, afirmou Migowski.

A Secretaria Estadual de Saúde admitiu que 25 crianças estão na fila por um leito de UTI, mas não informou como solucionar o problema. Segundo o órgão, 31 leitos nas unidades próprias e 10 na rede federal são regulados pela central. Os demais leitos de UTI pediátrica — 169 segundo o estado — não são administrados pelo governo.

Falta de leito arriscou vida de bebê

A falta de leitos adiou duas vezes a cirurgia de transplante de fígado de Matheus da Silva, 2 anos. O drama de crianças que precisam deste tipo de cirurgia no Rio é contado por O DIA desde 3 de fevereiro. Após longa espera por causa da falta de anestesistas no Hospital Federal de Bonsucesso, a operação de Matheus foi marcada para 5 de abril. Em seguida, foi remarcada para dia 12, mas acabou só acontecendo dia 15. Motivo: falta de leito de UTI pediátrico. Apesar de ser o único hospital que faz transplantes de fígado em crianças em todo o estado, o HFB só tem um leito especializado. Andrew Araújo, 1 ano, que havia sido operado em março, ocupava a vaga. Só depois que ele se recuperou Matheus foi operado.

Reportagem de Clarissa Mello e Pâmela Oliveira



fonte: O DIA online

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