quarta-feira, 6 de abril de 2011

Falso militar: “Na cadeia, até a Branca de Neve é sinistra”



Carlos Sampaio, o falso militar que trabalhou na Secretaria de Segurança, conta no livro o período na carceragem / Foto: Fabiano Rocha / Extra
Guto Seabra

O falso militar que tinha acesso a dados sigilosos da Secretaria de Segurança estava, no dia 14 de outubro de 2010, dentro de uma viatura da Polícia Militar a caminho da Polinter. Do Centro ao Grajáu, cerca de oito quilômetros dividiam mundos distintos. Com paletó e sapato social, Carlos da Cruz Sampaio Junior sente um frio na espinha ao ouvir o barulho do cadeado sendo trancado. Pensa na filha, nos pais. Lá estava o falso coronel no “porquinho” — como é chamada a cela —, conforme narra no livro ”As Gemadas de um Coronel sem Estrelas”. No cárcere, ele se impôs com sua lábia e até deu conselho a um detento sobre conceito jurídico.

“É do caso da Secretaria. Coloca ele no ‘seguro’ até o seu Julio chegar“, mandou um agente.

— Eu era o homem que havia burlado o sistema. Mas que grande falsário eu era? Burlado o sistema para trabalhar em prol da sociedade sem levar qualquer vantagem ilícita, E que raios de termos são esses? — pensou o falso militar.

O atrevimento que lhe rendeu a patente perde de goleada para o receio. Depois de deitar no cimento gelado, tendo o paletó como travesseiro, a tranca é aberta e a aparente tranquilidade se vai. Até que entrou o primeiro companheiro da cela, com três metros quadrados, sem banheiro e sem janela. O policial manda que o maltrapilho tire a roupa para a revista. Logo depois, ele se senta. Os dois não trocam uma palavra. E o som do ”porquinho” abrindo-se causa novo calafrio, anunciando companhia sombria.

— Rodou com o quê?

— Porte de arma — responde, sendo informado que o novo companheiro havia sido preso por assalto a mão armada e era integrante de uma facção criminosa. Com megas de velocidade, seu pensamento viaja. Mente e espírito estavam aprisionados, não só o corpo. E os passos do corredor informam suspense: quem vai entrar?

— Rodou como quê, coroa? — indaga.

Sampaio, como uma ovelha diante do olhar do lobo, responde e devolve a pergunta: e você?

— Espanquei a ex-mulher e matei o amante, mas não há qualquer prova — argumenta, sem sentido.

O detento tira do bolso documentos do Ministério Público. E pede explicação. Os anos da faculdade de Direito ajudam Sampaio a prestar consultoria, descrevendo termos. No livro, ele relembra seus dias dramáticos no cárcere.

— Na cadeia, até a Branca de Neve é uma figura sinistra.


FONTE : EXTRA ONLINE

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