Publicada em 02/04/2011 às 17h05m
Antônio Werneck
RIO - Sonia Braga tinha 18 anos quando desembarcou no Centro do Rio para a estreia carioca de "Hair", na década de 70. Trazia na bagagem, de São Paulo, uma elogiada atuação como a estrela principal do musical. Mas enquanto os olhos do mundo artístico apontavam para os primeiros passos da morena talentosa, os dela - destacados no verso de Caetano que citava a "tigresa de unhas negras e íris cor de mel" - miravam noutra direção: ficaram encantados com a beleza do Centro do Rio.
Sonia jura hoje que naquele dia se apaixonou e prometeu que um dia iria morar ali. Mais de 40 anos depois, miss Braga revela que está prestes a realizar o sonho: comprou um apartamento na Rua Álvaro Alvim, na Cinelândia, e já prepara as malas para a mudança.
- O Centro do Rio é lindo e charmoso. Ainda tenho que fazer umas reformas no apartamento, mas é certo: vou morar ali. É um luxo: a arquitetura, o elevador, tudo é bonito no prédio. Da minha janela ainda vejo o Pão de Açúcar, a Baía de Guanabara e o Teatro Municipal. Imagina que maravilha: vou caminhar alguns passos e assistir a um espetáculo no Municipal - diz a atriz, entusiasmada, por telefone de Nova York, onde trabalha num novo espetáculo e também tem um apartamento.
Sonia não está sozinha na corrida por um lugar no valorizado Centro do Rio: com investimentos orçados até agora em torno de R$ 8 bilhões, a região vai ganhar um banho de loja de fazer inveja a qualquer um. Nos próximos 15 anos, os investimentos virão de todos os lados. Estão previstas obras no Porto, no entorno do Morro da Providência, com a construção de condomínios residenciais, plano inclinado e praças de esportes; e dezenas de outros empresários já começam a olhar oportunidades de negócios.
E não é somente para atender às demandas de uma cidade que vai sediar jogos de uma Copa do Mundo (2014) e a primeira Olimpíada do país (2016). O bairro está mesmo na moda. É tanto investimento que até o presidente americano Barack Obama foi ao Centro, em discurso no Teatro Municipal, atrás de bons negócios.
Segundo o secretário municipal Desenvolvimento do Rio, Felipe Goes, os investimentos do Porto Maravilha levarão obras de infraestrutura urbana para uma região degradada, apostando principalmente na parceria com a iniciativa privada. Felipe lembrou que desde o início do processo de revitalização da região, há um ano, já foram aprovados na prefeitura quatro empreendimentos comerciais, totalizando mais de 50 mil metros quadrados de área construída, e seis empreendimentos residenciais, com outros 20 mil metros quadrados.
Sem contar a Praça Tiradentes, que vai ganhar iluminação nove e reformas; e a Lapa, sinônimo de sucesso e entretenimento, com três grandes empresários aplicando cerca de R$ 10 milhões em novos empreendimentos na área de gastronomia.
- Ainda temos trechos degradados, no miolo, por exemplo; mas estamos apostando na recuperação de toda a região do Centro com investimentos pesados: na Zona Portuária, com o Porto Maravilha; na Lapa, com a reforma dos Arcos e todas as outras ações, como o Lapa Legal; e obras e investimentos em andamento na Praça Tiradentes e seu entorno. Uma cidade sem Centro é uma cidade sem alma - disse o prefeito Eduardo Paes, alfinetando com estilo seu antecessor que queria levar todo o desenvolvimento para a Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes.
No Morro da Providência, o programa municipal Morar Carioca - além de infraestrutura, com a implantação de novas redes de água, esgoto e drenagem - inclui a construção de um teleférico e de um plano inclinado para facilitar a circulação e a acessibilidade dos moradores. O teleférico terá três estações e vai interligar a Providência com a Central do Brasil e a Cidade do Samba, num percurso de 665 metros, com capacidade para transportar mil pessoas por hora.
- Investir, como estamos fazendo, no Centro da cidade, é investir na história do Rio e do país. A região estava abandonada, mesmo com todo seu potencial com ofertas de transporte público, teatro e cinema; e gastronomia. Sua oferta de moradia cresce ano após ano - afirma Thiago Barcelos, subprefeito do Centro.
Thiago conta que em 2009, quando foi convidado para assumir a subprefeitura, chegou pessimista ao desafio.
- Logo mudei. Os comerciantes daqui do Centro são diferentes. Eles pensam em desenvolvimento com preservação e acreditam que ganhar dinheiro pode ser conjugado com viver bem e até morar com qualidade de vida. Eu mesmo tendo a convencer minha mulher a mudar para cá - diz o subprefeito.
Sonia Braga, a "moça de cabelo preto e lábios cor de açaí" de outra canção famosa de Caetano composta em sua homenagem, lembra que o Centro é ainda muito sujo, cheira mal e é muito barulhento. Reclama ainda que falta ordem pública e civilidade, mas não deixa de esbanjar charme enquanto fala:
- Quando voltar dos Estados Unidos, quero tomar um café e comer uma empadinha na Confeitaria Colombo, no Centro. Quer ir comigo?
fonte : O GLOBO
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