é tudo verdade
Enviado por Jorge Antonio Barros -
05.04.2011
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01h56m
Nem Hollywood consegue imaginar uma história tão cheia de coragem e emoção. Uma mulher vai visitar o túmulo do pai, num cemitério. Ali presencia dois policiais militares atirarem num homem. Ela imediatamente saca o celular e liga para a central da PM, o Copom (Centro de Operações da Polícia Militar). Enquanto ela denuncia os policiais, um deles se aproxima, mas a mulher não se intimida. Encara-o nos olhos e reage com espanto, afirmando que ele cometeu um crime. O diálogo é fantástico, algo no limiar entre a loucura e a ficção.
A mulher relata com clareza o crime praticado pelos policiais, que acabara de presenciar. Em tempo real. Depois um dos policiais a aborda e alega que estava socorrendo a vítima. A mulher se exalta e enfrenta o policial, perguntando como ele pode mentir na cara dela. Ela observa que está falando com a Polícia Militar, numa demonstração de confiança absoluta na instituição. E ainda ouve do policial do 190: "A senhora pode fazer a gentileza de fazer essa denúncia também para a Corregedoria da PM".
Infelizmente isso jamais aconteceria no Rio, onde as pessoas sabem que é preciso muita cautela para denunciar um policial. A mulher entrou para um programa de testemunhas. A Polícia Militar de São Paulo tem a obrigação de proteger a vida dessa mulher. Seu rosto foi visto pelos dois PMs já presos. Apesar de ocorrer em São Paulo, esse é o tipo do caso que não pode acabar em pizza. Não pode ser daqueles que "não dão em nada". Esses policiais têm que ser julgados, condenados e expulsos da Polícia Militar de São Paulo. A PM paulista têm que honrar a confiança depositada nela por uma cidadã.
A coragem dessa testemunha deve servir de exemplo para aqueles que se acomodaram e não se importam em denunciar crimes praticados por bandidos ou policiais. Não adianta ficarmos só reclamando das instituições sem fazer a nossa parte. Mas é necessário também reconhecer que a testemunha não agiu de modo inteligente. Ela agiu impulsivamente. Seu desespero em denunciar o crime poderia ter custado sua própria vida. A denúncia iria para o túmulo com ela. Ela deveria ter anotado todos os dados, a descrição física dos policiais, o número da patrulha e depois procurado um telefone público distante do local do crime.
Leia a íntegra do diálogo obtido pelo jornal "O Estado de S. Paulo":
"Testemunha : Alô.
Copom: Alô. Pois não?
Testemunha 1: Olha, eu estou aqui no Cemitério das Palmeiras, em Ferraz de Vasconcelos, e a Polícia Militar acabou de entrar com uma viatura aqui dentro do cemitério com uma pessoa dentro do carro, tirou essa pessoa dentro do carro e deu um tiro. Eu estou aqui, próximo da sepultura do meu pai.
Copom: A senhora sabe o prefixo dessa viatura, alguma coisa assim?
Testemunha : Não. Eu não vou chegar perto pra olhar. Eu estou olhando a viatura, mas que não dá pra ver o prefixo. Essa hora do dia fazer isso? Já é normal fazer isso aqui, mas não é normal eu assistir isso. Eu estou no Cemitério das Palmeiras, a viatura está parada, está ali.
Copom: Senhora, eu entendo. Ferraz de Vasconcelos. A senhora poderia repetir o endereço ai?
Testemunha: A viatura vai passar e vai dar pra ver o prefixo (vozes ao fundo). Estou ligando para a polícia, estou ligando para a polícia.
Copom: Olha, eu vou anotar o prefixo, quando a senhora me falar.
Testemunha : Olha, eles estão fechando, eles vão passar pela gente e ai eu vou ver o prefixo da viatura.
Copom: Tá certo.
Testemunha : Eles estão lá. Eles vão sair. Ela está dando ré. Vai passar por mim.
Copom: Já está com o prefixo já, senhora?
Testemunha: Espera só um pouquinho que eles estão fazendo a curva.
Copom: Eu vou registrar um alerta aqui e eu peço a sua gentileza de também fazer essa denúncia na Corregedoria da Polícia Militar.
Testemunha : Espera só um pouquinho que eles vão passar por mim agora.
Copom: Tudo bem.
Testemunha : Espero que eles não me matem também. Olha lá. A placa é DJL-0451. O prefixo é 29411, M29441.
Copom: Tudo bem, senhora. Obrigado por essa informação. Eu vou cadastrar essa ocorrência e eu peço que a senhora também ligue na Corregedoria da Polícia Militar. O telefone a senhora pode anotar?
Testemunha : (falando com terceiros) Já passei. Já passei. Está bom.
Copom: 0451 o final da placa, né?
Testemunha : Eu não sei porque ele está vindo agora. Tem um PM vindo na nossa direção. Eu não sei qual é o (...). (falando com o PM) Oi, desculpa senhor. O senhor que estava naquela viatura ali? O senhor que efetuou o disparo? É o senhor que tirou a pessoa de dentro ali atrás de onde nós estávamos? Eu estou falando com a Polícia Militar.
PM suspeito: Não, não. Eu estava socorrendo o rapaz.
Testemunha: Socorrendo? Meu senhor, olha bem pra minha cara.
(Trecho incompreensível)
PM suspeito: calma, senhora. A senhora não sabe o que o rapaz fez.
Testemunha: Minha nossa.
(Trecho incompreensível)
Testemunha : É verdade então a história, realmente. Ele falou que estava socorrendo, mentira. Ele entrou dentro do cemitério com a (...)
PM: Você não sabe o que aconteceu.
Testemunha: Eu sei bem. Eu não sei o que ele fez (voz do PM ao fundo) É mentira senhor. Eu não quero conversar com o senhor. O senhor paga o que o senhor faz. O senhor tem a consciência do que faz.
Copom: Senhora? Senhora?
Testemunha 2: Você vai se complicar.
Testemunha: Não vou me complicar. Vou me complicar por quê? Ele está dizendo que estava socorrendo, ele entrou dentro do cemitério.
Testemunha 2: Você também, ele ameaçou. Ele ameaçou.
Copom: Senhora?
Testemunha: Está bom, obrigada. O senhor já registrou, né?
Copom: Sim, eu já registrei, eu tenho os dados aqui. Mas eu falei pra senhora, liga no telefone da Corregedoria da Polícia Militar e passa essa denúncia.
Testemunha : Não entendi.
Copom: A senhora precisa ligar no telefone da Corregedoria da Polícia Militar e fazer essa denúncia. "
fonte : Réporter de Crime
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