Sidney Rezende | Sidney Rezende | 09/03/2011 19h18
A vitória da escola de samba de Nilópolis, Beija-Flor, despertou uma enxurrada de inconformismos nas redes sociais da internet. Da mesma forma que despertou defesas apaixonadas justificando as razões para a escolha do enredo sobre o cantor Roberto Carlos.
A falta de unanimidade coloca o título em xeque, o que não tira a legitimidade da conquista. Mas por que a Beija-Flor não galvaniza o aplauso coletivo?
Primeiro, a Beija-Flor é uma escola de chegada. E o brasileiro se incomoda com a liderança que transcende os anos. A Beija-Flor faz sucesso porque trabalha para ele. É uma escola focada.
Segundo, é uma escola profissional. E por isso chega sempre entre as primeiras. Há uma certa torcida pelo tropeço do mais forte.
Terceiro, é uma escola disciplinada e que traduz um modelo de desfile que agrada aos jurados e nem sempre ao público. E quem vota com o regulamento debaixo do braço é o jurado e não o folião da arquibancada. O espectador na tomada da decisão do resultado é um detalhe.
Quarto, a Beija-Flor monta o seu desfile também para a televisão. A imagem aérea do conjunto sempre passa uma correção na combinação de cores. A Imperatriz utilizou-se deste expediente por muitos anos.
Quinto, os enredos da Beija-Flor não são escolhidos para surpreender, inovar, provocar, instigar... Em um tempo longínquo do passado Joãosinho Trinta cumpria este papel cheio de aventura e arroubo criativo. Ele foi defestrado. Não é por acaso que a Beija-Flor não tem um carnavalesco e, sim, um "Politburo" no comando. E tem dado certo.
Quem está errado? A Beija-Flor que desfila para ganhar (e é uma competição!) ou aqueles que pensam que carnaval é uma arte popular genuína e despregada de realidade industrial?
Neste ponto, entramos em outro plano, bem pantanoso. Na internet já se disse que Roberto Carlos é um artista, mas é um empresário de muitos negócios. O presidente da Beija-Flor é um dirigente de escola de samba, mas é um homem que atua em vários ramos empresariais. Escola de samba é um negócio... e que mexe com muitas cifras. A comunicação que gira em torno do evento também é um negócio. O produto global é um negócio.
Talvez seja este o grande problema atualmente do carnaval, tem "negócio" demais envolvido, e quase não existe brecha para o arejamento criativo. Ganha-se no curto prazo e perde-se no futuro.
fonte : blog do Sidney Rezende
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