quarta-feira, 1 de junho de 2011

A proposta do livro didático “POR UMA VIDA MELHOR” do MEC

JB Online :: JBlog Tania Melo - A proposta do livro didático “POR UMA VIDA MELHOR” do MEC:
31/05/2011 - 13:13 | Enviado por: Tania Melo
Estou calada há algum tempo. É que não tive nada de útil a dizer nesse período e quando é assim, prefiro ficar calada. Mas, sobre a discussão do novo LIVRO DIDÁTICO lançado pelo MEC eu teria que dizer alguma coisa... Preferi aguardar, esperar entender o caso e aprender um pouco com todos que discutiram sobre o assunto.

Já escrevi aqui no blog algumas posições sobre as dificuldades de leitura e escrita das crianças e adolescentes brasileiras. Realmente isso é fato. Mas é urgente que nossos jovens possam estar na Escola para discutir temas de seu interesse, ou seja, temas que tenham a ver com sua vida real ou continuaremos a ter grande percentagem de abandono escolar.

Depois de observar as discussões sobre o livro didático de língua portuguesa POR UMA VIDA MELHOR, distribuído pelo MEC para a educação de jovens e adultos, penso que, na verdade, a forma como o conteúdo foi apresentado permite ao estudante ter melhor entendimento da chamada VARIAÇÃO LINGUÍSTICA, que existe em qualquer idioma, e conseguir entender a discriminação contra certas formas de expressão. Afinal, imagine uma pessoa que desde que nasceu convive com uma determinada forma de linguagem e de repente, já na sua vida adulta, vai para a escola ouvir que é incorreta. O que ela precisa entender é que a forma de falar depende do espaço social em que ocorre o discurso; que há uma norma culta, mas que existem outras normas; que a forma de falar é diferente da forma de escrever. Sou do tempo do TELEGRAMA e nem por isso vivo por aí escrevendo vg e pt. (só os desse tempo irão entender). Nas redes sociais escrevo da forma resumida e aqui não o faço.

Quando digo,
• na fala: “Me dá aquele livro em cima da mesa” e
• na escrita: “Dá-me aquele livro que está sobre a mesa”,
não significa que o que eu disse na expressão oral está errado e que apenas a forma escrita (NORMA CULTA) está correta.

Além disso, temos que pensar no aluno que NÃO VEM da classe privilegiada urbana. A chamada linguagem do povo, ou seja, da maioria, se pensarmos nesse Brasil gigante, precisa ser respeitada. E que se ensine que há uma fala oficial e exigida em vários espaços sociais, até porque se não for assim, a educação vai discriminar mais ainda. Afinal, aquele que não sabe se expressar com a norma culta terá dificuldade em se inserir em certa camada do mercado de trabalho, não terá oportunidade nos concursos e será discriminado em vários espaços sociais.

Não acho que a proposta do MEC seja “ensinar a falar errado”, pelo contrário, da forma como está, fica bem mais claro para quem nasceu em um meio que diz “nós vai e nós fica” entender a diferença. Como Psicóloga, digo mais. Para o sujeito que desde que nasceu ouve dos pais (seus ídolos em determinada faixa etária), avós, tios, irmãos, vizinhos, amigos... uma determinada forma de expressão, que fica nele internalizada, seria mais fácil entender que a linguagem culta ensinada na Escola é apenas um outro tipo de linguagem.

Vamos rever o conceito de estar alfabetizado.

• Estar alfabetizado é poder ir além do código escrito,
• É apropriar-se da função social constituinte dos atos de ler e escrever,
• Ser alfabetizado é fazer uso da leitura e da escrita no cotidiano,
• É ser capaz de ler qualquer livro, revista, jornal...
• É estar apto a escrever uma carta que seja entendida pelo outro,
• É poder, no mundo da cultura da tela e das imagens e sons com os meios eletrônicos, conseguir acessar informações e delas se utilizar com senso crítico e não apenas seguir regras, COPIAR E COLAR.

Por tudo que li das discussões, vi nas entrelinhas posições claramente tendenciosas. A discussão da forma como aconteceu, me fez TER A CERTEZA de que a Escola precisa se preocupar com o conhecimento da nossa língua culta, claro; exigir conhecimento da nossa gramática, sem dúvida, mas tem que principalmente desenvolver no estudante o pensamento crítico, a imaginação e a capacidade de expressão. Desenvolver nele uma mente questionadora e capaz de instituir novas formas de Ser ... e de SE DIZER.

“Pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra presa, palavra boa é palavra líquida escorrendo em estado de lágrima. Lágrima é dor derretida, dor endurecida é tumor... Lágrima é raiva derretida, raiva endurecida é tumor...” Este último entre aspas é da filósofa e psicanalista Viviane Mosé.

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