O DIA ONLINE - RIO - Manifestantes podem pegar até 34 anos de prisão:
Motim no Quartel-Central derruba comando dos bombeiros e 439 são presos
Rio - Depois de mais de 13 horas de motim no Quartel-Central dos bombeiros, na Praça da República, o governador Sérgio Cabral exonerou o comandante da corporação, coronel Pedro Machado, substituído pelo ex-subsecretário municipal de Defesa Civil do Rio coronel Sérgio Simões.
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Dos mais de mil que invadiram o QG sexta-feira à noite, 439 militares foram presos e responderão por quatro crimes: motim, dano ao aparelhamento militar (carros e mobiliário), dano a estabelecimento (quartel) e inutilização do meio destinado a salvamentos (impedir que carros saíssem para socorro).
Os detidos estão sujeitos a pena de 10 a 34 anos de prisão. “Eles agiram contra a própria instituição. (...) São vândalos irresponsáveis. Não há negociação”, afirmou duramente ontem Sérgio Cabral, que atribuiu motivação política à ação dos manifestantes.
Foto: Ernesto Carriço / Agência O Dia
“Esses vândalos se deixaram levar por discurso messiânico barato. Tenho informações de que são apoiados por políticos que já passaram pelo governo e não fizeram nada”, acusou, sem citar nomes, mas em referência clara ao ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho (PR). Em nota, o Corpo de Bombeiros informou que os bombeiros detidos já foram substituídos e que todas as unidades funcionam normalmente. O QG teve segurança reforçada.
De madrugada, o comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio, pediu a rendição dos amotinados. Sem sucesso. Algumas horas depois, dois helicópteros sobrevoavam o QG e tropas de elite (Bope) e de choque (BPChoque), da PM, explodiram o portão dos fundos e também entraram pelo telhado do quartel.
Houve confronto com bombeiros, acompanhados de mulheres e filhos. A PM usou tiros de festim e gás lacrimogêneo. No tumulto, crianças, entre elas uma de 1 ano, foram atingidas pelo gás. Cléia Valéria Menegheli, 26, grávida de três meses, passou mal e abortou. “Disseram que não houve morto no confronto. Mas meu bebê morreu”, disse o marido, o guarda-vidas Túlio Ancelmo Menegheli.
Um bombeiro foi detido com arma de fogo, e cápsulas de fuzil foram encontradas. A PM apura quem disparou. “Ouvimos disparos e optamos por entrar com algumas armas letais”, disse Mário Sergio. Antes, o comandante do BPChoque, coronel Waldyr Soares Filho, fora ferido por manifestantes com machado. Ele teve a mão quebrada.
Uma hora após o Bope entrar, 20 micro-ônibus e ônibus levaram os rebelados ao Batalhão de Choque. Depois, foram transferidos para a Corregedoria da PM, em São Gonçalo.
Foto: Ernesto Carriço / Agência O Dia
Manifestação deixa rastro de destruição
Saques de alimentos, 13 carros danificados — alguns por perfurações de balas —, além de bebedouros, lixeiras, cadeiras e mesas destruídos. Esses foram alguns dos danos, segundo o Corpo de Bombeiros, deixados pelos manifestantes durante a invasão ao Quartel Central.
Na lista de prejuízo ao patrimônio da instituição, estão ainda sete portas arrombadas, um vaso de planta quebrado e uma geladeira, que foi virada por manifestantes para servir como barricada.
Os portões de acesso ao estacionamento, a parte lateral e aos fundos do museu tiveram os cadeados quebrados pelos manifestantes. O vidro da janela do refeitório central ficou estilhaçado.
Parentes de presos fazem vigília
Durante todo o dia, parentes dos manifestantes fizeram vigília em frente à Corregedoria da PM, em São Gonçalo, onde estava o grupo. Eles reclamaram que, até as 17h, ainda não havia sido servido almoço para os bombeiros, só frutas e biscoitos. A Comissão de Direitos Humanos da OAB esteve no local e apura as denúncias.
Até o fim da noite, a definição que foi acordada com a cúpula da Segurança Pública era que líderes do movimento e oficiais presos seriam levados para o Grupamento Especial Prisional (GEP), em São Cristóvão. Os demais detidos seriam transferidos para a unidade-escola da corporação em Jurujuba, Niterói. Lá, ficariam num ginásio, onde seriam colocadas camas. As cinco mulheres presas ficarão em diferentes unidades.
Cronologia
SEXTA-FEIRA
19h30
439 bombeiros invadem o QG na Praça da República.
SÁBADO
Durante a madrugada, saqueiam comida do quartel e dormem sobre mochilas e faixas de protesto. Mulheres e crianças participam.
2h50
Tropa de Choque da PM chega ao QG. Policiais se posicionam atrás dos carros que faziam barreira de isolamento na entrada principal. Comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte, discursa e pede a rendição dos manifestantes.
6h10
Bope invade quartel, explodindo portão dos fundos, na Rua do Senado. Com apoio do BPChoque, usa tiros de festim, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral. Bope também usa escada sobre caveirão para entrar.
8h
Manifestantes começam a ser levados do Quartel do BPChoque.
11h30
Deixam o BPChoque e vão para a Corregedoria da PM, em São Gonçalo.
13h
Cabral anuncia exoneração do comandante-geral dos bombeiros. Seu sucessor é o coronel Sérgio Simões.
Reportagens: Alessandra Horto, Christina Nascimento, Isabel Boechat, Marcello Victor e Pedro de Figueiredo
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