quinta-feira, 19 de maio de 2011

É proibido proibir sacolas de plástico

Publicada em 18/05/2011 às 16h50m
Mylle Silva



Já estamos há algum tempo às voltas com a polêmica das sacolinhas de plástico no mercado. Elas poluem, demoram para se deteriorar, entopem bueiros, sufocam crianças; porém, são indispensáveis em nossa vida moderna. Atire a primeira pedra quem nunca colocou um produto por sacola só porque foi ao mercado comprar um sabonete, um congelado, uma ração pro cachorro e um pacote de café. Todos já fizemos isso, estamos acostumados a separar os "tipos" de produtos em sacolas diferentes para que um não estrague o outro de alguma maneira, seja molhando, passando o sabor, envenenando etc.

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No início - pelo menos aqui em Curitiba - as sacolas ecológicas (ou ecobags) eram vendidas a R$15,00 cada. Um absurdo se pensarmos que o único intuito dela é preservar o meio ambiente. Passaram-se cerca de seis meses e o preço foi reduzido para R$2,50. Agora que parece mais justo, vamos comprá-las e usá-las, certo? Sim, todos temos uma ecobag em casa e a usamos com certa frequência. Elas são modernas e externalizam nosso senso de preservação da natureza tão bem que as usamos em muitas ocasiões - menos quando vamos ao mercado.

Eu posso contar nos dedos as pessoas que usam ecobags nos supermercados, independente de qual seja. Não estou falando de classe social, mas sim de um hábito que temos de pegar a boa e velha sacolinha de plástico para carregar as nossas compras. Elas arrebentam, nós reclamamos e damos sempre o mesmo fim a elas: a lata do lixo - seja para armazenar o lixo ou para jogá-la fora mesmo.

Já sabemos que cada pessoa gasta um carrinho cheio de sacolinhas plásticas por ano, mas, mesmo assim, continuamos usando-as. O jeito, pensou alguém, é proibir o uso das sacolas então. Proibir e cobrar do consumidor alguns muitos centavos por cada sacola utilizada - bem mais do que os míseros R$0,03 centavos que recebemos de desconto por não utilizá-las.

Proibir nunca foi uma boa solução. Estamos muito bem condicionados a usar as sacolinhas no mercado e não será uma proibição que mudará um hábito de um dia para o outro. No entanto, entendo que seja mais fácil e barato proibi-las que promover uma reeducação de todos. Entenda por reeducação não apenas vender as ecobags por preços acessíveis ou mostrar nas portas dos mercados quantas sacolas cada pessoa consome por ano. É preciso promover a reeducação ambiental das pessoas, separação do lixo, reutilização das sacolas plásticas, não jogar lixo em terrenos baldios, incentivar o uso das ecobags em programas da TV aberta, como novelas, por exemplo. Imagine só a personagem indo ao mercado e usando uma sacola de feira, seria perfeito!

Não é só porque as crianças são mais jovens que elas tem facilidade com as novas tecnologias, mas sim porque elas nasceram e cresceram com ela, transformando o martírio dos mais velhos em hábito. O mesmo acontece com as sacolinhas plásticas. Antes existiam as sacolas de feira, era um hábito. Em um certo momento elas foram substituídas por sacolas plásticas que todos usam, criou-se um novo hábito. Não há como voltar do dia pra noite para as sacolas de feira, essa é a questão. Seria uma solução paliativa proibir as sacolas.

Para iniciarmos um novo hábito, todos deviam trabalhar em conjunto. As lojas deveriam oferecer pacotes alternativos e não sacolas fortes e resistentes com a logomarca. Os mercados deveriam oferecer caixas e ecobags a todo instante e não só escondidas num canto. As pessoas deveriam carregar as bolsas ecológicas sempre e não só porque é bonito. E assim, se tudo der certo, a próxima geração já estará habituada a não usar as sacolinhas de plástico com tanta frequência.



Este texto foi escrito por um leitor do Globo.

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