terça-feira, 3 de maio de 2011

Falsa psicóloga é solta após três dias presa



A falsa psicóloga Beatriz da Silva Cunha Foto: Bruno Gonzalez/Extra
Herculano Barreto Filho


A falsa psicóloga Beatriz Cunha, de 32 anos, presa na quarta-feira por estelionato, só ficou três dias na cadeia. No sábado, foi solta, um dia depois de a Justiça conceder liberdade provisória à mulher que enganou Marinha, Aeronáutica e pais de mais de 70 crianças com autismo, tratados no Centro de Análise do Comportamento.

A polícia continua a investigação. A Delegacia do Consumidor (Decon) ouviu 20 denúncias. Ontem, quatro casais e duas ex-funcionárias foram à delegacia. Uma psicóloga de 31 anos, que teve o registro do Conselho Regional de Psicologia (CRP) utilizado pela estelionatária, depôs.

As duas se conheceram na Universidade Gama Filho, onde foram colegas e chegaram a fazer um estágio, com crianças com diversos tipos de síndrome. Perderam o contato em 2002, quando Beatriz disse que iria estudar à noite. Quatro anos depois, a psicóloga, que não se identificou, foi contratada pela clínica de Beatriz, onde ficou entre 2006 e 2009. A estelionatária usava o poder de persuasão com funcionários, que permaneciam na clínica, apesar de serem mal remunerados e não terem carteira assinada:

— Ele dizia: “calma, eu vou assinar”. E não assinava nunca. É sedutora e conseguiu enganar todo mundo.

Antes de ser desmascarada, a falsa psicóloga já dava indícios de que a ambição poderia atrapalhar os seus planos. Um militar da reserva da Marinha, de 48 anos, levou a filha à clínica entre 2007 e o fim do ano passado. O militar percebeu que a clínica cobrava por serviços de fonoaudiologia, que estavam incluídos no convênio. O caso foi levado à assistência social da Marinha e o convênio foi cancelado. A menina, agora, recebe tratamento numa clínica em São Gonçalo.

A pedagoga Kelly Cristina dos Santos Domiciano, que trabalhou na clínica da falsa psicóloga entre maio de 2008 e junho de 2010, disse ter testemunhado maus tratos e problemas no trabalho com as crianças. Segundo relato na delegacia, o primeiro caso ocorreu em 2008.

Na época, era mediadora de uma das crianças, auxiliando na comunicação com colegas na escola. Em um mês, a criança evoluiu, aprendendo a usar tesoura e lápis. Mas na clínica, o trabalho permanecia estagnado. A pedagoga levou o caso para a diretoria e acabou dispensada pela família da criança. No ano passado, viu três funcionários obrigando uma criança a comer. Levou o caso adiante e, mais uma vez, foi dispensada.

— A intenção não era fazer a criança melhorar. Era manter dentro do mesmo quadro para que os pais continuassem o tratamento. Depois que saí da clínica, a Beatriz me queimou.


fonte: O EXTRA online

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