quinta-feira, 19 de maio de 2011

Escombros de demolições feitas pelo poder público não são removidos e viram problema ambiental e sanitário - O Globo

Escombros de demolições feitas pelo poder público não são removidos e viram problema ambiental e sanitário - O Globo: "Escombros de demolições feitas pelo poder público não são removidos e viram problema ambiental e sanitário

Publicada em 18/05/2011 às 23h33m
Isabela Bastos


RIO - Montanhas de escombros, resultado de demolições realizadas pelo poder público, viraram um transtorno urbano e caso de saúde pública. Do Fundão ao Pontal, restos de construções irregulares ou condenadas pela Defesa Civil levam ao aparecimento de lixões e à proliferação de ratos e mosquitos. Na Ilha do Fundão, o entulho da implosão da ala sul do Hospital Clementino Fraga Filho, da UFRJ, completa nesta quinta-feira cinco meses. No Recreio, a região que chegou a ser batizada de 'epicentro da desordem' virou o 'epicentro dos escombros'. Oito demolições feitas pela Operação Choque de Ordem dão ao local aspecto de terra bombardeada.


Demolições em áreas de risco, sobretudo após as chuvas de abril de 2010, também viraram dor de cabeça. Segundo associações de moradores, o entulho de 200 casas demolidas no Borel, na Tijuca, e no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, não foi removido.

Eram casas de risco e hoje são entulhos de risco

- Eram casas de risco e hoje são entulhos de risco - critica Roberta Ferreira, presidente da Associação de Moradores do Morro do Borel.

Elisa Brandão, presidente da Associação de Moradores do Prazeres, diz que as demolições aconteceram em julho passado, para evitar que as famílias voltassem às áreas de risco. Mas a limpeza só começou há 20 dias.

Implodida em dezembro, depois de um abalo nos pilares, a 'perna seca' do Hospital do Fundão virou uma pilha de concreto e ferros retorcidos. A UFRJ diz que é feito o controle de vetores no local, mas a solução para 137,5 mil toneladas de entulho deverá demorar seis meses. Depois de saber que a remoção custaria cerca de R$ 8,5 milhões, a universidade está negociando uma saída alternativa para o caso.
Empresas devem reaproveitar material

De acordo com o professor Pablo Benetti, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a UFRJ espera fechar um acordo com a Cruz Vermelha para que o material seja reaproveitado por empresas. O conselheiro da Cruz Vermelha no Rio, Luiz Carlos Santos, disse que já há interessados, mas a entidade ainda busca um parceiro para o beneficiamento do entulho. Ele espera assinar o convênio com a UFRJ até o próximo dia 28. Os recursos da venda seriam revertidos para a construção de centros de convivência para idosos na Região Serrana.
Entulho de demolições não são recolhidos pela prefeitura na Rua Dois D (Foto: Ana Branco / Agência O Globo)

Alvo das primeiras operações Choque de Ordem, em janeiro de 2009, o Pontal tem hoje pelo menos oito pontos de demolição nas ruas Gilka Machado, DW e 2W. Segundo moradores, os terrenos particulares - que abrigavam prédios e lojas irregulares - viraram lixões e focos de ratos, baratas e mosquitos. Até árvores crescem entre os escombros. O problema chegou a ser denunciado pelo GLOBO há quase um ano e meio , mas, desde então, a situação só se agravou. Num dos terrenos, o entulho fica tão próximo das casas que uma moradora esticou um varal aproveitando os vergalhões.

- Minhas duas filhas tiveram dengue este mês - conta a dona do varal, Viviane dos Santos.

O empresário Edson Oliveira reclama que os moradores ficaram com o ônus de uma briga entre a prefeitura e os donos dos terrenos:

- A prefeitura não limpa e o dono do terreno também não.

Sancionado em 2001, o Código de Limpeza Urbana do Rio proíbe a colocação de entulho, sem autorização, em terrenos privados ou públicos. A punição prevista é multa inicial de R$ 200 a R$ 500, conforme o volume de entulho. Os valores crescem em caso de reincidência. Apesar das regras rígidas, a prefeitura reconheceu ontem que não vem conseguindo imprimir à limpeza o mesmo ritmo das demolições.

Há um imbróglio jurídico sobre a propriedade daquelas áreas que, para complicar, são alvos de invasões

Segundo o secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos, Carlos Roberto Osorio, foram demolidas 3.259 construções irregulares em 2009 e 2010, numa demanda que superou a capacidade de resposta da secretaria. Para resolver o problema, a prefeitura fará uma licitação, de R$ 2,9 milhões. Com prazo de um ano, o contrato prevê que uma empresa terceirizada faça a retirada de até 33.600 metros cúbicos de entulho (2.400 viagens de caminhão). A prioridade será dada às comunidades com casas demolidas em encostas onde o entulho tenha virado caso de saúde pública.
Entulho de demolições não são recolhidos pela prefeitura na Rua Dois D. A menina Larissa dos Santos Martins, 14 anos, já teve dengue. A mãe Viviane aproveitou as pedras de demolição e criou um varal
Sobre as demolições em áreas particulares, Osorio diz que a responsabilidade é dos proprietários. Mas, para amenizar os transtornos aos moradores do Pontal, hoje uma força-tarefa da Comlurb visitará o bairro, para fazer o controle de vetores. Segundo o secretário especial da Ordem Pública, Alex Costa, a prefeitura tem tido dificuldades para notificar e multar os proprietários das obras demolidas:

- Há um imbróglio jurídico sobre a propriedade daquelas áreas que, para complicar, são alvos de invasões.

Mas entulho não precisa ser necessariamente um problema. Iniciativas públicas vêm mostrando que escombros de obras podem ser reaproveitados. A estratégia está sendo usada nas reformas do Sambódromo e do Maracanã e será empregada na construção do Transoeste e do Transcarioca.

COLABOROU Ludmilla de Lima

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