terça-feira, 24 de maio de 2011

Superação: 'Alá', ex-dependente químico, perna amputada e atleta da Mountain Bike



Thamiris Pimentel | Olímpico | 23/05/2011 22h07

Foto: Thamiris PimentelBarba vermelha e piercing no queixo. Ele era cumprimentado por todos que passavam pelo local onde havia concentração dos atletas que disputavam a 2ª Etapa da Taça Brasil de Mountain Bike, no último domingo, na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro.

Alarico Moura, mais conhecido como "Alá" (e isso desde os tempos de infância, como disse o próprio), morador da Ilha do Governador, chegou em terceiro lugar pela categoria Over 60 Masculino e atraiu o público por um diferencial: o atleta, de 66 anos, que já foi dependente químico, não possui a perna esquerda. Problema? Nenhum. Alá corre entre todos os atletas de sua categoria, sem que haja qualquer discriminação ou preferencial por conta de sua deficiência. Este senhor, que prefere ser chamado de "você", porque "não há nenhum velho" ali, é decacampeão Estadual, pedala há 30 anos e vai do Rio a São Paulo de bicicleta.

Um acidente de trânsito pode interferir na vida de qualquer ser humano, desde que este não se disponha a dar continuidade a mesma. Não foi o caso do atleta da Over 60 Masculino, Alá. Em 1979, o atleta ficou paraplégico, permanecendo internado por dois anos. Até antes de ocorrer o acidente, sua vida era um tanto quanto pacata, pois Alarico se via preguiçoso, não praticava nenhum tipo de exercício. Por incentivo de um médico, ele resolveu buscar atividades físicas. Foi quando descobriu o patins, no qual corria com o auxílio de muletas. Após, veio a bicicleta e, desde que a Mountain Bike chegou ao Brasil, há mais ou menos 21 anos, o jovem idoso resolveu aderir ao esporte, pois já pedalava há muito tempo.

"Eu sofri um acidente há 30 anos, mas isso não me impediu de seguir a vida. Eu não seria quem sou hoje, reconhecido por onde quer que eu vá. Imagine se eu não tivesse dado sequência à minha vida? Antes de me ocorrer o acidente, eu era preguiçoso, dependente químico. Fiquei uns dois anos internado, tive problemas de coluna, sou paraplégico. O médico, que foi um "Anjo da Guarda", me aconselhou a reabilitação da paralisia, logo depois de amputar a perna. Foi daí que comecei a praticar atividades físicas, andando de muletas, depois patins e descobri a bicicleta como um meio que me leva a qualquer lugar, a qualquer hora. Eu vou a São Paulo e volto, mole."

Sobre as dificuldades em se adaptar ao uso da bicicleta que, para ele, não tem diferença das demais, somente o pedal esquerdo que foi retirado porque, de acordo com o próprio Alarico, "é um apêndice inútil", o atleta disse que sua adaptação se compara a de uma criança quando tenta aprende a andar: vai tentando, caindo, até conseguir.

"Crianças metem a cara mesmo, vão buscando adaptação, arriscando passos, não se ligam para os obstáculos e eu sou a mesma coisa. Se tiver que cair, eu vou cair. Mas só vou notar a queda, quando eu estiver rolando no chão. Corro, subo em árvore, pego onda", brincou Alarico.

Títulos na Mountain Bike e alegria de ser quem é

Alá compete qualquer campeonato de Mountain Bike de igual para igual. O corredor sobe e desce ladeiras, passa marcha com a mesma facilidade que os demais e tem no currículo títulos como decacampeão Estadual, campeão brasileiro da modalidade, tricampeão do Agulha Negra, tetracampeão de Montanha do Rio de Janeiro, campeão paulista e mineiro.

Foto: Thamiris PimentelAlém de atleta, Alarico, que é ex-engenheiro e ex-militar, percorre a sociedade oferecendo palestras sobre dependência química, superação e faz parte da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência, referindo-se a inclusão social. De acordo com Alá, ele sim é incluso socialmente, devido à sua postura.

A lição de vida da Mountain Bike deu um show de simpatia, alegria e demonstrou estar muito bem de saúde. Alarico Moura, sem dúvidas, é um exemplo de vida àqueles que têm e não têm quaisquer deficiências. Alarico Moura finaliza a entrevista dizendo que não está lutando contra a sua deficiência, pois o mundo tem sido favorável a ele e se diverte ao dizer que os idosos de 60 anos não o chamam para possíveis eventos da terceira idade, por conta de seu espírito jovem.

"O mundo estava tão fantástico à minha volta. Para que eu vou querer o contrário? O que seria de mim idoso, deitado no sofá, chorando por conta da deficiência? Eu estou incluso socialmente e sou tratado por igual, mas isso é devido a minha postura. Me divirto com todo o mundo e sou chamado para tudo, divertindo a mim e aos outros. O pessoal de 60 anos não me chama para nada, mas a galera que pratica esporte, de trinta e poucos anos, me chama para todas as atividades. Não posso perder tempo na minha vida", finaliza o simpático ciclista.


fonte: BLOG SRZD

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